O papel tá caro, caro prá chuchu ...

Todo grupo tem suas piadas internas, brincadeiras que só são entendidas por quem vive a intimidade da "famiglia". Na minha casa, a expressão “pedido de Maria Paula” significa pedido difícil de ser atendido. Um ato inocente na infância engatilhou a reputação : nas cartas para Papai Noel que minha mãe nos incentivava a deixar debaixo da árvore, meus pedidos nunca eram compráveis. Queria que meus pais não brigassem; que minha avó ficasse boa depressa; que não morressem bichos da casa; que me casasse com o dono da Copenhague quando crescesse ( para comer à vontade os chocolates deliciosos recheados de licor que minha avó me dava às escondidas)... Minha mãe guardou as “provas do crime”, para diversão das minhas filhas, sobrinhos e agregados.

Não há graça em se pedir um presente comprável. Como um amor correspondido, presente deve surpreender, ser algo que, ao abrir, você se apaixone imediatamente e se pergunte intimamente como é que pôde viver sem ele até aquele momento. Tem a ver com o imponderável e intangível: eis que chego ao motivo da crônica. Dos últimos vinte anos, 2007 me foi o mais difícil. Talvez isso tenha ocorrido porque não sinalizei como desejava que o ano fosse. Para não correr este risco e inspirada por uma ótima crônica da Maria Olímpia de Melo – Lista de presentes -, volto a fazer pedidos. Como o papel está caro e antes que as florestas acabem ( “jingle bells, jingle bells, acabou o papel...” ), minha reestréia na versão adulta de pedidos será virtual.

Que 2008 seja um ano de recomeços. Na numerologia 2 + 8 = 10 e 1 + 0 = 1, início de todas as coisas. No tarô, 10 é o arcano maior da Roda da Fortuna e representa mudanças, novo ciclo. Que fiquem para trás os maus acontecimentos, preservem-se as coisas boas e venham efeitos especiais, dignos da Broadway. Numerologia e tarô concordantes, só preciso garantir o cumprimento das Leis do Destino!

Que eu receba uma injeção em dose sub letal ( “o que não provoca a minha morte, faz com que eu fique mais forte”, dizia Nietzsche ) de força de vontade, trabalhe menos e me dedique mais a projetos pessoais : família, auto-desenvolvimento, amigos ( se é que me sobrou algum depois do chá de sumiço do segundo semestre...). E que eu páre com essa mania chata de perfeccionismo no trabalho.

Que eu passe no vestibular para Filosofia na UFMG. Não perder a data de inscrição, como neste ano, facilitará bastante... Ah, devolvam minha memória de elefante, por favor. Não é possível ser feliz com memória de peixinho dourado, retendo informação por cinco segundos : viver bem é equilibrar-se entre lembrar o que traz bons afetos e esquecer os maus sentimentos. Sem a memória do passado, não posso me reinventar a cada dia e naturalmente, não terei no futuro um passado do qual tenha prazer em lembrar...

Deixei o pedido mais difícil para o fim : que eu consiga encontrar logo uma empregada ( quase ) tão boa quanto a Fabiana. Iria morrer de tanta culpa se tivesse que desejar que o casamento dela não desse certo só para ela voltar para cá...

Coisas realmente importantes o dinheiro não compra. Para as outras, diz a propaganda, um cartão de crédito é suficiente.

Maria Paula Alvim
Enviado por Maria Paula Alvim em 15/12/2007
Reeditado em 06/01/2008
Código do texto: T779356
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