O DIA EM QUE IRMÃ BENIGNA SE VOLTOU PARA SEU DEVOTO

A vida da gente parece um livro com infinitas páginas.

Páginas alegres, formidáveis, sensacionais...

Outras nem tanto.

Existem as páginas tristes, angustiantes, aterrorizantes, acachapantes, chorosas...

Assim são as páginas da minha vida.

Um dia quero colocar estas páginas para serem folheadas num livro que não pretendo vender, mas trocar por alguns reais em prol de um projeto, uma instituição, uma boa ação.

Será como a retribuição aos bons e maus momentos que minha passagem pela vida me concedeu.

Com certeza terei páginas hilariantes contrastando com outras tormentosas, mas tanto umas como outras, trarão alguma emoção...

Muitas vezes, quando estou ‘escrevinhando’ alguma coisa eu verto lágrimas. Às vezes de euforia, às vezes desconsoladoras. Mas é a minha vida e dela, cometo a infidelidade de tornar públicos alguns momentos marcantes de minha existência.

Já se vão mais de 40 anos da passagem daquela que um dia me tornei devoto: Irmã Benigna Victima de Jesus.

Acredito na sua força e no seu carisma, sei que ela está pertinho do criador e, tenho certeza, que ela é uma das mais "apoquentadoras" do Pai Celestial quando a causa é nobre.

É a intercessão da santa em sua mais autêntica extratificação.

Algum tempo atrás pedi licença à minha irmã Adriana para tornar de domínio público uma página que percorreu desde a mais dura e lancinante agonia até o despertar de uma esperança indescritivelmente milagrosa que atribuo à querida Irmã Benigna.

A “culpada” deste verdadeiro e autêntico milagre é única e exclusivamente uma senhora que tive a alegria de conhecer e dar carona num dia qualquer de 1973, dia este que nunca mais esqueci.

Naquele dia da década de 70 nada aconteceu, a não ser o meu milagre pessoal de ter conhecido e dado carona àquela que um dia verei canonizada, se Deus assim me permitir.

Mas, vamos à página de um passado bem menos longínquo. Era abril de 2017. Pessoalmente estava num momento triste de minha vida: no início daquele mesmo mês eu perdi um companheiro e sócio, acometido por um tumor cerebral que o levou em 57 dias. O meu amigo e irmão de caminhada Sílvio.

Mas, em meados daquele mês tentávamos retornar à vida normal, até nos preparávamos para todos irmos ao casamento de um primo querido em Belo Horizonte. Tudo caminhava de forma natural e Adriana, assim como todos nós, ultimava preparativos para a ida.

Foi quando num domingo que antecedeu ao casamento de meu primo, Adriana levantou-se com uma leve indisposição intestinal e passou aquele dia muito incomodada com o tal distúrbio, que só foi piorando a ponto de, na segunda-feira, se dirigir ao hospital e, não mais aguentando, pedir para ser internada. E assim o foi. A partir daí, exames começavam a ser procedidos, e nada de melhorar, somente agravar e, pior ainda: o distúrbio que era intestinal, passou a ser renal, depois, circulatório, depois cardíaco e até mental.

Adriana não melhorava, destarte juntas médicas começarem a revezar para descobrir qual era o mal (não vou declinar nomes, para não ser indelicado ou inoportuno). A situação se agravou tanto que eu e meu irmão chegamos a pedir ajuda de outros médicos de outro hospital. Foi quando um dos médicos a quem procuramos resolveu assumir o caso e solicitou que fosse ela trasladada imediatamente para o nosocômio de seu costume e que fosse ela levada diretamente para a UTI. E assim aconteceu...

Mas, a agonia não passava!

Não se conseguia descobrir qual era o mal até que foi ela diagnosticada com uma doença autoimune denominada “síndrome fosfolipídica”. As doenças autoimunes tem suas características muito próprias. Elas não provém de bactérias ou vírus. Em suma, é o sistema imunológico da própria pessoa, que passa a produzir anticorpos contra componentes do organismo dela mesma. Resumidamente: Adriana estava sendo atacada por ela própria.

A partir do diagnóstico, iniciou-se uma maratona atrás de medicamentos e técnicas até não muito convencionais ou testadas. A síndrome de Adriana, para se ter uma ideia, em Lavras, foi o segundo caso diagnosticado, sendo que o primeiro restou na sucumbência de seu adoentado, segundo fiquei sabendo.

Os médicos, enfermeiros, laboratoristas trabalhavam heroicamente no caso de Adriana, todavia, nada dava resultado. Adriana apenas e tão somente produzia gemidos. Seu olhar era como um olhar ‘perdido no espaço’. Ela já não reconhecia ninguém, não esboçava reações, não sorria, não se entristecia. Estava letárgica, catatônica. Os médicos apenas nos pediam calma, estavam contando, “com um dia após o outro”. Aparentemente, Adriana caminhava para um tratamento apenas paliativo, esperando-se sua reação pessoal, uma vez que tecnicamente quase nada se podia fazer...

A agonia da família era imensa, intensa. Nos restava rezar, pedir, dobrar os joelhos e não perder a fé. Nossa peregrinação à UTI era diária e sem novidades.

Foi quando, numa segunda-feira já da segunda quinzena de maio eu resolvi procurar alguma “oração milagrosa”. Foi quando me lembrei de Irmã Benigna, aquela que um dia dei carona e que, neste dia da carona, quando a deixei de volta ao Lar Augusto Silva, ela se voltou para mim e meu colega que conduzia o veículo e disse o seguinte: “ – Um Dia Deus vai retribuir procêis!”

Eu não vacilei e pedi a ela: “Irmã Benigna, chegou a hora de pedir aquela retribuição!” Pra falar a verdade, foi um pensamento até mesmo ríspido, proveniente de alguém que já estava perdendo a esperança. Perdendo a fé!

Assim, procurei a oração de Irmã Benigna para obter milagres na Internet. Não foi difícil encontrar. Copiei, colei numa página e imprimi. Esta era (e ainda é) a oração:

“Ó Deus, que ensinastes a vossa serva Irmã Benigna a aceitar, com grande resignação, todo sofrimento e humilhação a que esteve opressa, nós Vos suplicamos: ensinai-nos também a aceitar dignamente e com humildade as provações que nos são necessárias para nossa salvação. Ó Irmã Benigna, intercedei por nós junto a Deus para merecermos obter os dons do Divino Espírito Santo, para bem nos conduzir, durante a nossa caminhada aqui na Terra. E, assim, invocá-lo: “Ó Fonte de luz e fortaleza, que nos faz conhecer o bem e praticá-lo, ensinai-nos a orarmos ao Deus de nossa vida e a aceitarmos, ó Senhor, o Vosso jugo que nos fará leves”. Ó Irmã Benigna, queremos, nesta breve oração, honrar as dores localizadas no Vosso Santo Corpo e, em nome delas, solicitar-vos: sede nossa advogada junto a Deus, para que obtenhamos as graças necessárias (...) e a salvação eterna. E, se depender de Vossa Vontade, ó Deus, nós vos pedimos: concedei apressar a santificação de Vossa Serva, Irmã Benigna, e, assim, poderemos dar-Vos graças pelos benefícios que temos recebido, sempre que invocamos a eficácia de sua intercessão. Ó Deus, que nos presenteais com o dom da vida, nós Vos bendizemos e Vos suplicamos que, como Vossa serva, dominemos o ódio, a malquerença e o orgulho e, pela Vossa Santa Cruz, concedei-nos aprender a vencer todos os inimigos visíveis e invisíveis. E, pelos méritos de Irmã Benigna, ó Deus, vencer as ciladas do demônio e nos conduzir ao Reino da Eterna Glória, através das dificuldades desta vida. Assim vos pedimos por Jesus Cristo, nosso Senhor, vosso Filho, que convosco vive e reina, na unidade com o Espírito Santo por todos os séculos. Amém! Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Assim como era no princípio, agora e sempre, por todos os séculos dos séculos. Amém. IRMÃ BENIGNA VICTIMA DE JESUS, rogai a Deus por nós!”

Dobrei o papel, coloquei em meu bolso, passei na portaria do apartamento de minha mãe e fomos juntos ao hospital fazer a ‘mesma peregrinação’. Lá já estavam outros prontos para visita-la, como meu incansável cunhado, que também sofria dolorosamente com a situação de Adriana.

O número era sempre limitado de visitas à UTI. Naquele dia foi ele primeiro e, depois de um certo tempo retornou e ainda perguntei: “ – E então?” Ao que respondeu: “ – Do mesmo jeito...”

Entramos eu e minha mãe na UTI e encontramos a mesma pessoa de todos os dias, sempre com leves pioras, quase nunca com alguma melhora: estática, sem reações, olhar perdido. Parecia em outro mundo! Ficamos ali um pouquinho, rodeamos a cama... Não havia muito o que fazer a não ser fitar aquele semblante até meio inóspito, sem emoção, rígido.

Naquele instante, meio sem saber se ela me ouvia ou não, falei pra ela: “- Drica, eu hoje trouxe a oração milagrosa da Irmã Benigna e eu quero ler e orar junto a você e à nossa mãe. E, assim procedi. Desdobrei o papel e, ainda com fervor, apesar de meio incrédulo devido aquela imagem estéril de Adriana, fiz a oração que foi cuidadosamente ouvida e acompanhada pela minha mãe.

Ao final, me virei para a Adriana e disse a ela: “ – Agora, Drica, eu e a mãe vamos rezar a oração que a Irmã Benigna sempre pedia, a Salve Rainha e, se você estiver em condições, se você estiver ouvindo, queria que também acompanhasse. Olhei para a Adriana e nada notei... Então, vamos começar: “ – Salve Rainha...”

Nesse instante, como num “passe de mágica”, Adriana desencantou. Ou melhor: “Reencantou” e começou a rezar conosco! Simplesmente ela rezou toda a oração da Salve Rainha! Ao final daquela oração eu e minha mãe estávamos com os olhos marejados. Adriana não só rezou como também sorriu para nós dois. Abriu um novo semblante. Despertou novamente para a vida. Mexeu os olhos. Tirou-os do teto e olhou para nós dois!

A partir de então, Adriana só melhorou e, em pouco mais de uma semana já estava em casa.

Foi uma graça!

Não. Não foi uma graça. Foi um milagre!!!

Eu nunca vou me esquecer desse dia: “O dia em que Irmã Benigna se voltou para seu devoto.”

Na verdade, ela não fez isso por mim. Estou certo! Eu sou ínfimo nesse contexto! Ela intercedeu por minha mãe Marly, que tinha já um coração dilacerado pela falta de perspectiva. Fez pelo meu cunhado Eugênio, que não conseguia mais ter paz e discernimento ante o que estava acontecendo. Fez, pelo meu irmão Fernando que de longe inquietava-se com a falta de horizonte. Irmã Benigna intercedeu pela vida de Adriana, que tanto já fez pela comunidade cristã-católica. Que é portadora de um coração diferenciado e de uma grandiosa e estrondosa fé.

Irmã Benigna, nos seus 40 anos de partida, eu lhe peço infinitas bênçãos e lhe digo: tenho por sua pessoa uma dívida e devoção impagáveis!

Obrigado por ter importunado nosso Pai Celestial por mais esta maravilhosa causa. Por ter chegado no Pai do céu e dito, mais ou menos assim: “ – Então, Senhor!!! Tá na hora de retribuir!!!”

Adriana hoje está em nosso meio - estou certo disso - por sua culpa, tão grande e nobilíssima culpa.

A sua bênção, Irmã Benigna!

GBertolucciJr.

#gbertoluccijr

GBertolucciJr
Enviado por GBertolucciJr em 20/05/2023
Código do texto: T7793292
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.