ALYSSON, EUDES e o JIPINHO DAS 50 VIAGENS

Foi num dia 8 de maio de 1954 que rotarianos destemidos, predestinados e futuristas fundaram e instalaram o clube rotário em Lavras. Os rotarianos de então receberam o suporte de outros rotarianos do Rio de Janeiro, da capital mineira e, principalmente de Leopoldina, cidade que detém o clube padrinho do Rotary Club de Lavras, ou seja, o Rotary Club de Leopoldina.

Desde então o clube lavrense acolheu em seu quadro associativo nomes de alta significância na história - podemos dizer - recente destas Lavras do Funil. Um dos nomes que já cerraram fileira no quadro de sócios do clube está justamente o de Paolinelli, que na década de 60 e início de 70, foi um membro daquele clube, só o deixando para assumir a Secretaria de estado da Agricultura.

Uma das mais fantásticas e comoventes histórias encontra eco na saga vivida por docentes da então Esal, capitaneados justamente por Alysson Paolinelli.

Uma certa parcela da população lavrense sabe ou já ouviu falar de um drama vivido pela nossa querida Esal, que no início da década de 60, por muito pouco não sucumbiu a uma ordem do presidente da República – à época, João Goulart – que determinou ao seu ministro da Educação Antônio Ferreira de Oliveira Brito, que enviasse dois agentes daquele ministério até Lavras, um deles, o “insubordinado” - para nosso alívio - Eudes de Souza Leão Pinto, que transportava num dos bolsos de seu paletó a Portaria Ministerial determinando o encerramento das atividades da nossa Escola de Agronomia.

Pois bem. O desdobramento da história eu mesmo já contei nas redes sociais e na imprensa local algumas vezes. Graças ao “insubordinado” Eudes, a Esal não cessou suas atividades. Não por acaso, Lavras deve todas as honras e agradecimentos a esse ser diferenciado – diga-se de passagem um rotariano, extremamente religioso e de um espírito humanitário sem igual.

Foi Eudes que, sensibilizado pela docência de então, liderada por Alysson Paolinelli e outros mais, pelo corpo discente da mesma escola e pela comunidade local, onde até mesmo os depoimentos de um barbeiro e um engraxate pesaram na firme, obstinada e perigosa decisão de não cumprir a Portaria Ministerial, retornou à capital federal, colocando em risco seu próprio cargo e conseguiu convencer o ministro Oliveira Brito e o presidente João Goulart de que o ato se configuraria num verdadeiro Ato de Lesa Pátria.

Assim, foi a Esal salva de seu fechamento, mas não de sua quase derrocada econômica, onde se viu definhada e desarvorada de recursos financeiros que lhe proporcionassem um mínimo de sustentabilidade econômica.

Salva da sucumbência, pouco ou nada sobrara aos administradores de então, a não ser um pires para esmolar recursos e um Jeep Willys Overland, doado pelo Serviço Social Rural, por muitos anos, a única viatura existente na Esal e à disposição de seu corpo docente.

Neste sábado, quando prestamos a justa homenagem ao ex-diretor da Esal Alysson Paolinelli, através da conceção do título de Associado Honorário ao ex-rotariano, num evento onde tivemos picos de quase 130 pessoas na sala virtual e que contou com a presença de dois dos filhos do saudoso Eudes de Souza Leão Pinto, estas histórias vieram à baila não só por mim, como também pela filha caçula de Eudes Pinto, Aísa Pereira, que lembrou das vezes em que se deparava com o jipinho com placas de Minas Gerais na porta da sua casa, senha inequívoca de que lá estava Alysson Paolinelli conversando com Eudes sobre “a ciência da terra” e meios oficiais de se obter recursos que pudessem fazer com que a Esal voltasse a caminhar e cumprir seu preceito de ensinar a mesma ciência aos alunos que a ela acorriam.

Este jipinho, cuja foto ilustra esta postagem, única viatura à disposição da Esal, tinha pintada em sua lateral a logo da escola e as placas de carro oficial, mostrando ser a condução de uso destinado aos trabalhos esalianos, dirigido pelo próprio professor Alysson e posteriormente o diretor da Esal, Alysson Paolinelli, foi por anos a única ‘limusine’ utilizada para fazer mais de 50 viagens ao Rio de Janeiro (onde, por algum tempo continuou sendo a sede do ministério da Educação), à Belo Horizonte e posteriormente à Brasília, a partir da transição administrativa dos órgãos e ministérios à nova capital federal.

Foi por ele que Alysson Paolinelli “comeu muita poeira na época das secas e amassou muito barro na época das águas” num único e exclusivo intuito: viabilizar recursos econômicos e financeiros capazes de fazer a Esal chegar ao que hoje é a Ufla.

A federalização da Esal ocorrida em 23 de dezembro de 1963, através da Lei Federal nº 4307 e publicada no DOU em 14 de janeiro de 1964 não resultou em recursos imediatos à Escola, tanto que um grupo de docentes e discentes ficou durante os anos de 1964 e 1965 sem receber sequer um único centavo de salário, ficando à mercê da boa vontade do comércio lavrense, que abriu aos mesmos cadernetas para compra de alimentos e mantimentos, a fim de que os mesmos não viessem a ter o constrangimento de lhes verem faltar o mínimo necessário às suas sobrevivências.

A situação da Esal só veio ‘clarear’ parir de convênios conseguidos a duras penas por Alysson - utilizando o famoso jipinho - e seus colaboradores, através do extinto IBC – Instituto Brasileiro do Café e outros organismos da época, mas, foram anos penosos, somente rompidos graças à determinação, saga e destemor de homens como os rotarianos Eudes de Souza Leão Pinto e Alysson Paolinelli, além de outros heroicos cidadãos imbuídos do mesmo espírito guerreiro e visionário que enfim, salvou a Esal de seu fechamento e quase sucateamento por falta de recursos financeiros e econômicos.

O Rotary Club de Lavras, cujo rotarismo leva a reconhecer – e, não deixar no esquecimento - atos grandiosos como os de Eudes Pinto e Alysson Paolinelli, sente-se orgulhoso em ter novamente em seu quadro associativo como ASSOCIADO HONORÁRIO, um herói chamado Alysson Paolinelli.

Em tempo: Em setembro de 2012, numa iniciativa também do Rotary Club de Lavras, conseguimos mobilizar a comunidade acadêmica da Ufla e o mundo político de Lavras, para definitivamente reconhecer o caráter benemérito de Eudes Leão de Souza Pinto, quando os Conselhos da Ufla outorgaram a Eudes o título de Professor Honoris Causa, a Câmara Municipal de Lavras, outorgou-lhe o título de Cidadão Honorário e o próprio Rotary Club de Lavras também outorgou ao rotariano Eudes Pinto o título de Associado Honorário, além de três safiras da comenda rotária denominada Paul Harris, resgatando, assim, toda a justiça devida àquele “ato de insubordinação” que restou por salvar a Esal de seu fechamento.

GBertolucciJr.

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Enviado por GBertolucciJr em 20/05/2023
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