Over Your Neck - 01

Afinal, você usa o que tem sobre o seu pescoço mesmo? Foi uma coisa muito estranha, quando “botei reparo”. Sabe quando você está sem nada para fazer e consegue prestar atenção aos lugares certos, nos milhares de informações recebidas a cada segundo, diante das telas da vida? Não é tão difícil entender como cheguei, por exemplo, a estabelecer uma relação entre o pouso na Lua e a Bossa Nova. Me acompanhe:

Comecemos pela maior aventura espacial da humanidade no século passado. Pousar na Lua foi uma conquista admirável, obtida com muito conhecimento. Neil Armstrong titubeou ao dar o primeiro passo naquele terreno hostil. A famosa frase sobre os passos, transformou-o numa lenda. Mas, a história dos Estados Unidos da América é recheada de grandes nomes e Armstrong é o sobrenome para onde olhei. Veja só: você está admirado com a conquista da Lua e pensa nas conquistas dos EUA. E, por acaso, lembra-se de todas as atrocidades cometidas para conseguir o próprio território, por exemplo. Me deparei com George Armstrong, um militar americano que trucidou o povo nativo daquela nação. Ele ficou famoso pela patente: General George Armstrong Custer.

E nessas minhas descobertas de tempo livre, usando esse troço sobre o pescoço, descobri que o General Armstrong Custer foi morto em uma batalha contra os Sioux, em 25/06/1876. Quando Armstrong voltou da Lua, caindo no oceano pacífico, faltava um dia para a morte do dito general completar 92 anos. Claro, isso chamou-me a atenção. O grande chefe, líder dos Sioux na batalha, era chamado de Crazy Horse (Cavalo Louco). Seus feitos são venerados por seus descendentes. Há inclusive, uma estátua enorme sendo esculpida para homenageá-lo na região de Black Hills, em Dakota do Sul. Apesar disso, o nome do condado onde se situa o maciço rochoso, é Custer.

E meus olhos descobriram que, no mesmo maciço rochoso, há outro ícone dos EUA: o Monte Rushmore. Aquele mesmo onde estão esculpidos os rostos de George Washington, Thomas Jefferson, Theodore Roosevelt e Abraham Lincoln. É engraçado! Toda vez que olho para essa belíssima escultura, a capa do disco “In Rock”, do Deep Purple, vem à memória. Foi lançado em 1970 e marcou a entrada de Ian Gillan e Roger Glover na banda. A formação mais bem sucedida da história deles, aliás. Perceberam o mês de junho entremeando minhas descobertas? É coincidência e pouco ou nada tem a ver com essa crônica.

Não é o meu álbum preferido da banda, apesar de gostar de algumas canções. Aliás, a maioria dos fãs do Purple, preferem o terceiro álbum dessa segunda formação, com Gillan nos vocais. Chama-se “Machine Head” e foi lançado em 1972. E como colhi nas minhas descobertas, “as condições em que as gravações originais foram realizadas, são um tanto extraordinárias”.

O álbum anterior, “Speedball” havia sido um fracasso, do ponto de vista comercial e principalmente artístico. Pressionados pelo sucesso de “In Rock”, gravaram pressionados e com “o que vinha na cabeça”, como declararam os músicos. Precisavam de calma e tranquilidade para realizar algo agradável a todos. Então olhei no lugar certo outra vez e os descobri preparando o novo álbum (Machine Head) na Suíça. Em Mountreaux, onde até hoje ocorre um festival de jazz, conseguiram o estúdio móvel dos Rolling Stones e Ian Stewart, conhecido como o “6º Stone”. Aguardavam apenas o encerramento do show de Frank Zappa and The Mothers of Invention, no cassino, quando o inusitado aconteceu.

Um fã “empolgado”, descobriu um revólver sinalizador e resolveu disparar como se fosse fogos de artifício. A bala atingiu o teto do teatro flutuante e o incêndio arrasou o local. Uma baita confusão e os planos do Deep Purple também viraram cinzas. A proposta (o remédio), passou a ser utilizarem um dos andares do hotel para improvisar uma sala de concertos, aproveitando o apoio da aparelhagem dos Stones. Seis músicas foram gravadas e Ritchie Blackmore e Ian Gillan improvisaram uma canção sobre o incêndio no teatro.

As imagens ficaram gravadas na mente do guitarrista, e ele sonhou com a barcaça em chamas. O sonho lhe trouxe uma frase, que inspirou Gillan a compor a letra de “Smoke on the Water”, provavelmente o maior sucesso da banda e um dos riffs de guitarra mais famosos da história do rock’n’roll. Porém, lá estão meus olhos xeretando outra vez.

Claude Nobs, organizador do festival de Mountreaux, era um fã confesso da Bossa Nova e muito amigo de Ritchie Blackmore. Creio que, entre um gole e outro, apreciaram juntos uma música de Carlinhos Lyra, chamada “Maria Moita”. Experimente comparar a introdução dela com o riff famoso. Como diria Regis Tadeu: “é, meu amigo e minha amiga!” Lendo, ouvindo e permanecendo atento para as coisas aleatórias, usa-se a imaginação para criar uma pequena e maluca historieta.