Heroína de Zé Ninguém
Com o tempo, venho aprendendo que não posso salvar a ninguém senão eu mesma. E essa lição, em partes, foi árdua de absorver, porque ingenuinamente, julgava PODER... só que não... não tenho esse "PODER"... que a propósito, por meio da escolha, está nas mãos de cada indivíduo; daí, acatar ou não alguma postura diante da vida, tomar enfim uma decisão, independe do querer alheio; portanto, ainda que eu não concorde com determinadas atitudes que o outro incorpore, impedindo-o de desenvolver potenciais para seu crescimento pessoal, não irá afetá-lo se assim não desejar. Meu excesso de preocupação e zelo não é colocado em xeque, nem interfere no que este deseja para si, por mais que minhas intenções sejam boas; pode acontecer da pessoa escolher ignorar e viver segundo "suas regras" ou rasgar qualquer tipo de convenção da vida em sociedade. E as consequências disso, não sou eu quem vai evitar, irão surgir na mesma proporção da ação que o outro tomar. Entender isso, foi vital para eu parar de desperdiçar-me e também de ficar esgotando meu tempo e energia em algo que não irá alterar em nada a minha vida, simplesmente porque não se trata da minha. Por mais que eu queira usar meu "escudo" para proteger os demais, pode faltar espaço para proteger a mim mesma, e eu assumi esse risco diversas vezes... de ser o "para raio " alheio... o "raio" surgiu inesperadamente e me atingiu em cheio..."queimando as vestes" da minha existência... por insistência e permanência em lugares que nunca me couberam e até "tomando lugar" e dor do outro... sem compreender que ali eu nem deveria estar, muito menos tentar ocupar um posto que nem é meu.
Hoje, depois de muitas frustrações, vejo o quão tola fui.
Me ensinaram a colocar-me no lugar das outras pessoas e que não devo desejar à elas, o que não desejo para mim; até aí, tudo bem... isso não é ser altruísta?... o que não me ensinaram, foi a estar no meu próprio lugar, que ninguém é obrigado a ser recíproco, e portanto, não corresponderão na mesma altura.
Despenquei de alturas imensas do alto das expectativas que criei, tive meu corpo cheio de fissuras e meu coração despedaçado. Precisei de tempo para abrigar meu interno e recompor-me. Não consigo salvar o mundo e "todo mundo" é muita gente, longe de mim qualquer pretensão ou qualificação para tal empreitada. Cada um escolhe pelo que quer ser impactado e o quanto aguenta sofrer alguns impactos. Hoje, só quero a paz de poder descansar meu corpo e mente em meu leito, sabendo que dei o meu melhor naquele dia e que ninguém precisa saber dos meus feitos nem validá-los, porque dentro de mim e aos olhos de Deus, ressoa o valor de cada ação, advinda do meu coração que se esforça em deixar sua assinatura em tudo o que toca e experiencia. Isso tem sido suficiente para trazer um pouco de alegria para o meu viver. Se alguém me viu passar ou foi beneficiado de alguma forma pelas minhas escolhas e ações, tudo bem... o bem se estendeu aos demais... se não, tudo bem também... passamos diariamente pelas pessoas, bem como o sol, e ter a sensibilidade de sentir, vai da disposição de cada um e do quanto se está aberto para isso... não nos compete interferir no que o outro sente ou não, porquanto, essencialmente, isso não irá diminuir a nossa própria luz, mesmo que a partilhemos... ela continuará a iluminar nossos caminhos e nos salvará de cair em precipícios. Parafraseando: "Cair em si, é a melhor queda "... é a que nos desperta para a vida. Você já despertou?... Bom dia!