Roberto Carlos: Em Lavras, nunca mais. Nem passando por cima, de avião!!!

O rei Roberto Carlos, com mais de 80 anos muito bem vividos, dono de uma voz que, surpreendentemente, jamais envelheceu. Com um talento indubitavelmente inquestionável, tem uma relação com Lavras que, infelizmente, restou desastrosa e tristemente indesejável.

Destarte ter ele como irmã a “ternurinha” Wanderléia, que viveu sua infância e adolescência alternando idas e vindas entre Lavras e Itumirim (aqui em Lavras Wanderléia residia na zona norte, não sei bem se na Rua Dr. Samuel Gammon ou na Av. Vaz Monteiro), o episódio vivido em Lavras – segundo se sabe – é uma página virada por ele e nunca mais folheada.

Poucos sabem, mas, o rei Roberto Carlos já passou por Lavras e deixou uma ‘palhinha’ de seu sucesso, mesmo que, à época, não fosse tão estrondoso como hoje o é. Era possivelmente 1963 ou 64 e, naquela época, os cantores de sucesso eram descobertos – muitos deles – debaixo de lonas circenses, quando passavam a ser uma das atrações, em meio a leões, macacos, palhaços e malabaristas...

Foi assim que numa noite qualquer o rei – que ainda deveria ser apenas um príncipe – aqui esteve e lotou um certo picadeiro cantando seu “Splish Splash”, ou, um “Louco Por Você”, ou um Iê, Iê, Iê do momento...

O certo é que Roberto Carlos iniciava sua trajetória e já causava suspiros apaixonados às fãs que começavam a pulular as rádios e programas de TV só para ouvir e ver o novo imperador das canções românticas e do rock and roll tupiniquins.

Bem, depois de se apresentar – contou meu pai, um certo dia – que o rei – ou o “ainda” príncipe resolveu comer o melhor churrasco da cidade. Assim, após a apresentação debaixo da lona circense, rumou o cantor para a churrascaria. Era o Bar & Restaurante Tipuana, nós morávamos no mesmo prédio, bem em cima do restaurante, daí meu pai se lembrar de algumas nuances da famigerada noite.

Ocorre que atrás do já afamado cantor uma plêiade de calorosas fãs acorreu até o bar para – quem sabe – conseguir dele um autógrafo, um retrato, quem sabe um abraço, até mesmo um beijo...

Logo a seguir uma outra plêiade, mais parecida a uma alcateia se aninhou à frente do estabelecimento e, em meio aos suspiros incontroláveis das fãs, começava-se ouvir apupos, troças, arruaças contra o mesmo astro.

Roberto Carlos, devido a seu problema – que sempre tratou com muita discrição – na perna direita, àquela época, ainda não detendo os melhores equipamentos, mancava um pouco e, por conta disso, passou ele a ser chamado com o mesmo apelido que um conhecido fotógrafo lavrense – que também mancava da perna – tinha, o inesquecível Ary.

Fosse nos dias atuais, certamente o bando mal educado teria estado em muitos maus lençóis, contudo, naqueles tempos a permissividade com relação a este tipo de monstruosidade era evidente e corriqueira.

Alguns enciumados marmanjões lavrenses começaram a arremessar sobre o cantor e seus acompanhantes objetos, bolinhas de papel, palitos de picolé e de repente até copos de vidro e outros acessórios começaram a ser atirados, colocando a integridade física do artista em perigo, uma vez que os objetos eram capazes até mesmo de provocar alguma lesão.

Segundo meu pai ficou sabendo, os proprietários do Tipuana Bar bem que tentaram desesperadamente conter os trogloditas, sem, contudo, obter muito sucesso.

Muita histeria, alguns copos atirados e demasiada gritaria fizeram as fãs deixarem o local decepcionadas, estupefatas, algumas chorando e outras traumatizadas com tanta monstruosidade.

Por fim o astro resolveu deixar o local sem mesmo saborear o churrasco encomendado, passou pelo hotel, onde se sabe, passaria a noite e rumou para seu próximo destino, sentenciando tristemente decepcionado: “Em Lavras, nunca mais. Nem passando por cima, de avião!”

Esta é realmente uma página manchada de Lavras. Logo a cidade que viu a “ternurinha”, a “irmã que Roberto escolheu” perambular por suas ruas até sua juventude. Triste capítulo!

Eu, se um dia tivesse a oportunidade, pediria, em nome daqueles cascas-grossas que cometeram o imperdoável ato, perdão, mil perdões pelos feitos grotescos – pra não dizer coisa pior – e o convidaria a vir a Lavras dar seu perdão e cantar em praça pública para - aí sim - todos os lavrenses bem educados ovacioná-lo, homenageá-lo, reverenciá-lo como bem merece.

Pena que isso nunca vai acontecer...

GBertolucciJr.

#gbertoluccijr

GBertolucciJr
Enviado por GBertolucciJr em 18/05/2023
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