Escrever é feito um caminho...

 

Hoje o dia amanheceu tão lindo, com a chuva caindo mansa e naquele escorrer devagar sob a folhagem feliz, se refrescando, balançando-se com os ventos, fui pensando que escrever é feito um caminho por onde passam os nossos olhos, passam e ficam os sentimentos e pensamentos, ah as chuvas de maio, do jeito que eu gosto, veio parecendo querer me presentear, veio curiosa, num querer me despertar para a manhã suave, tentando adivinhar os meu pensamentos nus de mistérios, me peguei tocando as suas gotas com a ponta dos meus dedos, como se assim eu conseguisse o céu tocar, sem pensar nos abismos que carregam certas almas sombrias, aonde as águas levam e se escoam em lama, sem junto me levar, no brilho cinza do dia, silenciosa, cá me encontro, absorvendo por horas cada ponto, cada traço que a mim, se apresenta a felicidade ou a tristeza; que tão bem sei conduzir, sem preocupação, tropeços de lembranças longínquas que querem se chegar, e algumas eu deixo... não vivo de passado, mas ele faz parte não tenho como negá-lo.

 

Amo a chuva tanto quanto amo os passarinhos, amo de um jeito diferente, e exagerado certamente, fiquei escutando os pássaros que se esconderam na árvore do outro lado do muro, impacientes, esperando estiar, olhando um ou outro que aos pingos se aventurou para no ar se libertar, os meus pensamentos se reportaram, mantendo fixo o olhar numa antiga cerca de arame farpado, enroscada no velho mandacaru repleto de flores e espinhos, ah quanta dificuldade eu tive para atravessar para o outro lado de um tempo entre o futuro e o passado. Quando aprumei as minhas asas e comecei a voar!

 

E nesse presente _ _ não questiono mais sobre o que foi feito dos sonhos que não realizei, nem por isso o mundo feri, apenas novos sonhos criei, vivendo a realidade e alimentando-os continuarei, mas faço um rascunho da minha alma num instante natural de quem vive, sem romantizar a solidão que essa é só por dentro, reflito um outro mundo... sem querer pisei alguns desencantos quando me rejeitou a felicidade, e me reergui renovando as minhas expectativas e vontades a cada novo dia... pois a vida não vem pronta, temos que lutar, às vezes desarmados, o caminho fica mais suave, o sono fica leve, e sonhar fica mais gostoso, sem as correntes... é, escrever é feito um caminho de risos, ora de lágrimas, estar vivo é isso, podemos trilhá-lo acompanhados por muitas outras pessoas, mas o nosso destino é contemplar a paisagens sem que ninguém saiba o que vai dentro de nós, dos pequenos detalhes da alma, além das paisagens encontramos pessoas, algumas inesquecíveis, e outras que precisamos mesmo é ignorar e esquecer... mas sempre seguindo cientes de que estaremos sempre irremediavelmente sozinhos.

 

Nada é para sempre, o sempre é o agora, as minhas fantasias se vestem de uma realidade que a poesia traz, o que seria da poesia sem as palavras, sentidas ou inventadas, mesmo assim morreria. Seguindo aqui sem recorrer às recordações daquilo que faz entristecer, o destino me ensinou a viver, imagina se vou querer reviver o que me fez sofrer, é sacudir a cabeça, olhar para a frente, e sentir a felicidade, a minha esperança alcançou o futuro, esse lugar onde me encontro agora, ainda terei muito à percorrer, embora a minha sentença já tenha sido decretada. Insisto em seguir, humildemente na simplicidade da minha vida, sabendo que a felicidade veio para ficar comigo, como mandá-la ir embora sem mim?

Liduina do Nascimento
Enviado por Liduina do Nascimento em 17/05/2023
Reeditado em 26/09/2024
Código do texto: T7790352
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