ENFRENTEMOS OS NOSSOS DEMÔNIOS

Meu pai, João Bosco Boniolo Machado, já falecido, nasceu aos 07 de fevereiro de 1909.

Contou-nos, certa feita, que pedalava a sua Philips pelo lugar denominado Divino de Ubá - distrito de Ubá - Minas Gerais.

Relatou-nos que estava uma noite muito escura, cuja iluminação provinha da lua, das estrelas e do dínamo (dispositivo acoplado na estrutura da bicicleta que, friccionado com o pneu e com o movimento da roda, gerava iluminação) de sua bicicleta.

Em dado momento, quando descia pela estrada, do nada a bicicleta deu uma cambalhota arremessando-o ao chão.

Sem entender o que ocorrera, levantou-se, sacudiu a poeira, recolocou o seu chapéu Panamá e seguiu viagem.

Quando menos esperava, novo capote (Isto ele não nos contou, mas imaginamos que xingara bastante.)

Novamente levantou-se, avaliou superficialmente as lesões, bateu vigorosamente os pés no chão, sacudindo a poeira, recolocou o chapéu e ainda pensativo, montou novamente em sua magrela.

Alguns metros à frente, adivinhem...Isso mesmo.

Só que dessa vez, tomado de fúria mortal, passou a mão no facão riscando rispidamente a longa lâmina do pérfuro-cortante em todas as direções. Ao mesmo tempo em que dava os golpes ao léu, esbravejava: "VEM DEMÔNIO, OCÊ NUM QUÉ ME DISAFIÁ...? VEM ME ENFRENTÁ SE OCÊ É MACHO!"

Ofegante, exausto, percebendo que nenhuma entidade ousaria um duelo com alguém tão determinado ao combate, baixou a guarda.

Ao se abaixar para levantar a bicicleta, percebeu que a causa dos sucessivos tombos era nada mais, nada menos, que a bainha do facão que se entrelaçava nos raios, provocando o travamento da roda dianteira e as consequentes quedas.

Contei essa história para ilustrar que o meu pai só descobriu que o demônio não existia, após decidir enfrentá-lo e ter se disposto a derrotá-lo.

Conclusão: enfrentemos os "nossos demônios" e veremos que na verdade eles não existem, simplesmente são gerados na nossa criativa imaginação. E se, por outro lado, eles insistirem em permanecer, mostremos a eles que somos mais fortes e que vamos derrota-los.