Seis ipês a menos
Não sei se vocês viram, mas andaram cortando meia dúzia de ipês-amarelos que embelezavam uma rua em Curitiba. E o interessante é que ninguém faz ideia de quem tenha sido o autor. Os vizinhos, muito naturalmente, atribuíram o caso à prefeitura – ah, sempre podemos esperar os maiores absurdos de todas as prefeituras, de todas as cidades. Pois a prefeitura veio a público e disse que não, dessa vez não tem nada a ver com isso, e inclusive, vai investigar direitinho essa história aí, pois se considera a verdadeira dona de todos os ipês das ruas curitibanas.
Se não foi a prefeitura, cai por terra a hipótese dos vizinhos de que as árvores teriam sido cortadas para a instalação novos radares. Não é que a prefeitura não queira e não vá instalar ainda muitos radares por aí, apenas não vai derrubar os ipês para isso. Inclusive, dizem que já há um radar nessa rua, e vejam só: cortaram três ipês antes e três ipês depois do radar. Com isso, a teoria é que um motorista achou que o radar estava escondido demais atrás dos ipês e foi lá e cortou os mais próximos: agora todo mundo conseguiria enxergar o maldito radar!
A imprensa está chamando o cara de “maluco da motosserra”, pois usou uma motosserra para cortar as árvores e é maluco. Nenhuma câmara flagrou o sujeito, muito menos a do radar, pois a motosserra, justiça seja feita, não ultrapassou nenhum limite de velocidade. Alguém há de ter, ao menos, ouvido a barulheira que ele fez, mas você teria coragem de denunciar alguém que tem uma motosserra? Ah, tudo leva a crer que esse foi um crime perfeito e ficará impune.
Não vou julgar a justiça dos radares, escondidos ou não. Defendo, em todo caso, os ipês, que chegaram lá antes do radar, há 30 anos, e são os menos culpados nessa história. Uma coisa é ter um instante de raiva e indignação. Cortar seis árvores, no entanto, é um processo longo, suficiente para que alguém se dê conta da própria loucura. Se mesmo assim ele insistiu no ato tresloucado, é porque é alguém perigoso não só às árvores, mas também às pessoas.
Quando chegar setembro, teremos seis ipês-amarelos floridos a menos. Ora, de seis em seis, acaba-se a primavera. Convém que se descubra o autor e ele seja exposto, pelo menos, à desaprovação da população, se não for possível a prisão – uma prisão bem cinza e sem outras cores, de preferência. Se parece exagero, vejam esse anúncio que saiu em 1907 em um jornal de Sete Lagoas/MG e que eu colhi em uma crônica do Arthur Azevedo:
“Está sendo processado um filho do Sr. Antonio Serrano, por ter quebrado um magnólia da arborização pública”.
Se eles processavam quem quebrava uma magnólia, imagine que pena não atribuiriam ao sujeito que corta meia dúzia de ipês! Como em todo o resto, sigamos os mineiros.