Precisamos falar de futebol
Gosto de esportes, menos o de corrida de carros. Box também não. Além de não gostar, sou contra a prática da caça esportiva e de clubes de tiro. Os jogos olímpicos me enchem os olhos. Inclusive de lágrimas. Curto o futebol desde criança. Batia uma "pelada" no terreiro de "Seu" Carlos, lá em Jampruca, com bolas feitas de meias ou bexigas de porco e de boi. Dei meus chutes no gramado de Jamppruca e de Engenheiro Caldas. Momentos inesquecíveis. Em seguida fui titular na zaga do time do Ginásio Agrícola de Colatina. Também me diverti no volei e no futebol de salão. Mas o futebol de campo era o que me atraia mais. Fui um zagueiro razoável, não dava chutões pro alto. Sempre tratei a "pelota" com carinho. Matava no peito e dava uns chapéus e dribles vez em quando. Tipo Luisinho, zagueiro do Atlético nos anos oitenta. Os atacantes não tinham muitas chances comigo, nas bolas aéreas. Tive de parar cedo, por conta de problemas de coluna. Acabei virando um torcedor apenas, que não vai mais aos estádios, nem para ver o glorioso Clube Atlético Mineiro. Não se trata de decepção com o futebol. Continuo gostando, mas atento ao que acontece dentro e fora dos gramados, onde a corrupção campeia, sem querer fazer trocadilho. Explico a seguir.
Sempre mantive atento aos fatos em todas áreas humanas. Para que não me fizessem de tolo. Ouvimos falar diariamente sobre a corrupção na política. Em outras áreas, fala-se pouco. Em alguns casos é como se não existisse. Mas ela está lá, também nas religiões, no sistema de justiça, no meio empresarial, no sistema financeiro, no agro é pop, etc. E obviamente, no futebol.
Confira na lista abaixo os dez maiores escândalos em que foram denunciados ou condenados dirigentes da Federação Internacional de Futebol (Fifa) e da Confederação Brasileira de Futebol (CBF):
1. Fraude nas eleições de 1998
A eleição do suíço Joseph Blatter para a presidência da Fifa, em 1998, foi marcada por uma série de polêmicas. Blatter era considerado o candidato da situação, e tinha o respaldo do então presidente João Havelange, brasileiro que comandou a entidade por 24 anos.
O principal nome da oposição era o sueco Lennart Johansson, que prometia reforçar os mecanismos de transparência na Fifa.
Quatro anos depois, o jornal britânico Daily Mirror revelou o pagamento de 50 mil dólares a delegados africanos para eleger Blatter. A eleição terminou com o placar de 111 votos a 80, e os representantes da África foram o fiel da balança.
2. Receita Federal de olho
Desde 2002, a Receita Federal brasileira investiga casos de fraude e sonegação no futebol, a maior parte deles relacionado à gestão da Fifa e da CBF. Na soma das três operações, foram mais de 100 pessoas físicas e jurídicas investigadas.
Os esquemas preveem pagamentos de até R$ 5 bilhões, em forma de tributos, multas e juros. Os nomes dos investigados são mantidos em sigilo até hoje.
3. Caso ISL
Em 2010, a rede britânica BBC denunciou que João Havelange e seu genro, Ricardo Teixeira, embolsaram R$ 45 milhões da agência de marketing esportivo suíça ISL. A ideia era que a agência tivesse exclusividade nos contratos de venda e direitos de mídia com a Fifa nos Mundiais de 2018 e 2022.
A Justiça da Suíça abriu investigações sobre o caso e teve acesso a documentos que comprovaram as acusações. Como se não bastasse o pagamento de propina, a ISL havia declarado falência em 2001, o que causou um rombo sem precedentes na Fifa.
4. O suborno que não foi adiante
A escolha das sedes da Copa do Mundo quase sempre suscita denúncias de compra de votos e pagamentos de propina. Em 2012, o então presidente da Federação Inglesa de Futebol, David Triesman, acusou Ricardo Teixeira e outros três dirigentes da entidade de pedir suborno para votar no Reino Unido como sede da Copa 2018.
Com o suborno recusado, o Mundial caiu no colo da Rússia.
5. Escolha do Catar
Oito anos atrás, a escolha do Catar como país-sede da Copa 2022 é considerada uma das mais polêmicas da história da Fifa. O executivo asiático Bin Hammam foi banido da entidade após a comprovação de fraudes, mas o Catar foi mantido como sede após uma investigação do comitê de ética da entidade, segundo a qual a corrupção não foi determinante para a decisão.
Hammam foi acusado de investir mais de R$ 11 milhões em subornos para que os delegados votassem no Catar como sede, em detrimento da Austrália. Em janeiro de 2013, a revista France Football afirmou que Ricardo Teixeira e o então presidente da Associação Argentina de Futebol, Julio Grondona, também teriam recebido propina para votar no Catar como sede da Copa de 2022.
O país que disputava voto a voto a realização daquela Copa também se envolveu em polêmicas. Jack Warner, então vice-presidente da Fifa, é acusado de receber 375 mil euros da federação australiana.
6. Compra de votos em 2011
Mohammed Bin Hammam, ex-presidente das federações asiática e do Catar, também foi acusado de comprar votos na disputa contra Joseph Blatter, nas eleições para presidência da Fifa em 2011.
O delator foi o então secretário da Confederação Norte-Americana de Futebol, Chuck Blazer.
Representantes das federações acusadas de receber suborno, como a da Jamaica, foram à imprensa para negar as acusações. Pouco antes do pleito, Hammam retirou a candidatura – atitude que foi interpretada mundialmente como uma confissão.
7. Presos em Zurique
O Ministério Público Federal dos Estados Unidos divulgou em 2015 que a Fifa estava no epicentro de mais um escândalo de corrupção.
Quatorze pessoas entraram na mira do FBI por fraude, extorsão e lavagem de dinheiro em acordos com agências de comunicação e marketing esportivo. O tema das investigações era a venda de contratos de mídia e direitos de marketing em competições como as Eliminatórias da Copa e a Copa América.
Sete agentes da Fifa foram presos em um hotel de Zurique, em 27 de maio de 2015, enquanto se preparavam para a eleição presidencial da entidade.
No balanço mais recente divulgado pela operação, 18 pessoas haviam sido indiciadas, das quais nove eram funcionários da Fifa e cinco eram mega-empresários.
8. A organização criminosa de Marin
O ex-presidente da CBF, José Maria Marin, foi considerado culpado em seis das sete acusações a que respondia nos Estados Unidos em 2017. No epicentro das denúncias, estava o recebimento de subornos em dinheiro em troca da concessão de direitos de marketing e mídia de jogos de futebol no Brasil.
Segundo o texto da condenação, Marin cometeu os crimes de fraude financeira, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Marin foi o presidente do comitê organizador local da Copa do Mundo de 2014, estava entre sete dirigentes da Fifa presos em Zurique em maio de 2015. Ele cumpria prisão domiciliar desde então em Nova York.
Ironicamente, no mesmo ano, camisas com o distintivo da CBF eram usadas em manifestações "contra a corrupção" no Brasil.
9. O banimento de Marco Polo
O ex-presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, tornou-se alvo do FBI por suposto envolvimento em esquemas de corrupção em 2015. No rol de acusações, havia sete crimes: três de fraude, três de lavagem de dinheiro e um por organização criminosa.
As investigações do Comitê de Ética da Fifa só avançaram após a condenação de Marin, em 2017. O nome de Del Nero apareceu em inúmeros depoimentos, documentos e gravações telefônicas. A Justiça concluiu que ele recebeu mais de 6 milhões de dólares para favorecer empresas de marketing esportivo no Brasil.
Após a comprovação das denúncias, em abril deste ano, a Fifa anunciou que Del Nero estava banido para sempre do futebol. Além do afastamento definitivo, o brasileiro terá que pagar o equivalente a R$ 4 milhões em multas.
10. Esquema Rosell-Teixeira
Em maio do ano passado, o ex-presidente do Barcelona e executivo da Nike no Brasil, Sandro Rosell, foi preso na Catalunha. As acusações que pesam sobre ele repercutem também sobre o brasileiro Ricardo Teixeira.
Ambos são acusados de lavagem de dinheiro na venda de direitos de transmissão de amistosos da Seleção brasileira, por meio de contas nos Estados Unidos e em paraísos fiscais.
O valor desviado pela dupla, segundo as acusações, extrapola os R$ 60 milhões.
Cidadão honorário de dezenas de estados e cidades do Brasil, Ricardo Teixeira renunciou à presidência da CBF em 2012.
Edição: Juca Guimarães - Brasil de Fato