IMATURO
Lembro quando você me chamou de imaturo, e minha resposta foi: Por que você não arranja um cara maduro para você namorar? Era uma diferença de idade que eu não via. Você com seus dezenove anos e eu com meus dezesseis incompletos. Você me fez crescer. Falsifiquei a carteira de estudantes para ir ao cinema em filmes para maiores, acompanhando você. Deixei o cavanhaque crescer, precisava me apresentar mais velho, para poder te merecer. Lembro da primeira vez que saí do cinema, o rosto todo manchado de Baton. Que vergonha, e ao mesmo tempo o cara fera e conquistador. E a noite com aquela cara de bravo eu ia te buscar na escola, eu era muito forte e já adorava artes marciais. Aqueles toques íntimos que você me ensinou a fazer, no início meio sem jeito, era tudo novo para mim, era diferente, mas muito natural e humano. Você descortinava o mundo e me mostrava. Sem maldades e sem gracinhas ela me ensinava todos os dias. Comprei um par de alianças de compromisso, eram feitas em prata e todos os dias eu limpava a minha e dava brilho. Essa brincadeira levou quase dois anos. Foi legal. Mas um dia em comum acordo resolvemos terminar, sem choro sem arrependimento ela havia me preparado para esse fim, sem traumas e sem sofrimento. Era a hora de eu sair pela vida sozinho, dar cabeçadas, errar e seguir por outros caminhos. Ficamos muito amigos, trocávamos até segredos de namoricos que nos envolvíamos. As vezes íamos ao cinema juntos, éramos excelentes companhias. No dia do seu casamento tive a honra de leva-la a Igreja, foi no meu primeiro carro, um fusca verde que eu acabara de ganhar do meu pai. Eu estava muito feliz de te ver tão feliz. Assim seguimos caminhos diferentes. Se sinto saudades? Claro que sinto, mas ela me fez compreender que a vida é assim, separa o que precisa ser separado e junta o que precisa ficar junto. Cresci, passado dez anos me casei. Duas filhas, trinta e quatro anos de casado, um velho professor aposentado. E que depois de ter passado por isso tudo, hoje me acho mais imaturo do que naquele tempo.
Tião Neiva