Despedidas

As despedidas começaram quando eu tinha nove anos. Primeiro, foi a minha avó, que perdeu a batalha contra o câncer de mama. Em seu velório, pensei que as poucas lágrimas que derramei seriam as últimas. Porém, no ano seguinte, minha melhor amiga foi embora para Natal. As últimas lembranças que tenho dela era da gente brincando com bambolês na rua, às oito da manhã e ela se afastando dentro da uma van, acenando para mim.

Como se não bastasse, dois anos mais tarde, foi a vez da minha outra melhor amiga partir. Seu destino era a Bahia. E ela era a única coisa que eu tinha, a única que me restou, porque quando a primeira amiga partiu, todos os outros se afastaram. Ela era a líder do grupo e todo mundo sabe que sem líder, o bando se dispersa.

Então, eu fiquei só.

Daquele dia em diante, jurei a mim mesma que eu nunca seria a pessoa a ir embora. Ao mesmo tempo, me fechei em meu mundo. A única forma de evitar despedidas era não conhecer e nem se apegar a ninguém. A dor da separação é sempre horrível. Alguém já se perguntou porque bebês choram ao nascer? Porque ali, um laço foi rompido e ele nunca mais fará parte do corpo da mãe novamente.

Nascer dói, viver dói.

Aos 14 anos, percebi a necessidade de preencher espaços na minha vida, deixados por aquelas amizades do passado. Conheci uma pessoa, tentei abrir o meu mundo para ela e acho que só abri uma fresta da janela. Mas era o suficiente para respirar.

Três anos depois, conheci outra pessoa, para quem escancarei as portas do meu mundo de tal forma que ele se tornou dela também. Minha nova amizade tinha gosto de infância, de ar fresco depois do sufoco e de água gelada em um dia quente.

Mas o tempo… nunca foi bonzinho comigo. Minha nova amizade começou a derrubar pontes e casas no meu mundo, alegando que era a coisa certa a fazer. Ela construiu barreiras em volta de mim e eu fiquei presa, durante anos, achando que estava confortável. Demorei a perceber que a água gelada me deixava resfriada. O ar fresco poluída meus pulmões.

Era o efeito Chernobyl. Uma cidade, antes muito habitada, teve a infelicidade de ser cenário para uma tragédia radioativa que a destruiu por completo. Hoje, ela é deserta e só pode ser aberta para visitações. No meu mundo, antes colorido e vívido, eu não percebi que abrigava uma bomba relógio radioativa, prestes a explodir no meu colo e destruir tudo o que eu amava.

Quando me dei conta, eu me tornei deserta, livre apenas para visitações. Um vai e vem de pessoas infinito que me deixou exausta, a ponto de eu precisar estabelecer minha cidade em outro lugar.

Aí, eu me tornei a pessoa que ia embora. Não me respeita? Tchau. Não me escuta? Tchau. Duvida do meu potencial? Tchau.

A vida me quebrou tanto, com tantas partidas, que eu fui a próxima a partir.

Janaina Melo
Enviado por Janaina Melo em 12/05/2023
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