O Colar de Pedra Azul
Nos tempo do casarão azul, para onde as crianças da família eram levadas nas férias, dando sossegos aos pais e atormentado a avó... Existiam locais que para nós eram proibidos. O escritório de meu avô, o quarto de vestir onde minha avó guardava seus tesouros - seus baús, seus leques, seus chales de renda e seda, e claro, a despensa! Ficava “pegadinho” à porta da cozinha – paraíso de todas as guloseimas da casa.
Nossos dias eram longos, acordávamos com o sol, a tempo de ver a retirada do leite, a alimentação dos cavalos, carneiros, porcos e demais moradores da fazenda... Após o café reforçado, estávamos livres para brincar naquele paraíso tropical.
Eu, sendo ainda muito pequena não podia afastar-me muito dos olhos de minha avó devido ao perigo de alguma cobra, o rio de corredeiras fortes e os bois. Alguns até “alongados” o que os tornam mais perigosos, segundo os peões da fazenda. Então eu ficava por perto e quando alguém se descuidava eu via minha chance de excursionar pelos lugares proibidos da casa. Meu avô sempre estava lendo em seu escritório ou na varanda, fumando seu narguilé, então restava o quarto principal... No alto da escada, porta sempre fechada – mistério!
Era um quarto amplo, arejado, com móveis austeros. Tudo muito limpo e arrumado, com cheiro de lavanda inglesa [eu acho] e o quarto de vestir insinuava-se cheio de prateleiras, com muitas caixas e os baús de todos os tamanhos... Não foi possível conter-me! Entrei e peguei um bauzinho de couro marrom com cantoneiras douradas [um tanto gastas], mas bonitas. Por sorte, não tinha chave... “Esta aberto”! Virei tudo em cima da cama. Sentei-me espalhando o tesouro de vovó, na colcha de crochê! Eram anéis de pedras grandes e pequenas, pedras coloridas, broches, fivelas para cabelos, alfinetes de gravata, os relógios de meu avô [tinha uma tampinha!] cordões e intermináveis perolas perfeitas. E a coisa mais linda que meus olhinhos já tinham visto! Um colar de perolas trançadas e com um pingente de coração com uma pedra azul.
Foi amor à primeira vista! E ao primeiro susto! Minha avó entrou. Olhou-me. Eu ali, muda, no meio dos broches e anéis... Ela sentou-se em silêncio. Eu havia quebrado as regras da casa! Sabia que seria castigada... Mas para minha surpresa, vovó começou a retirar suas coisas delicadamente e guardando-as no bauzinho foi contando a história de cada peça e o que significava para ela.
Quando chegou ao colar em minhas mãos, falou sobre a pedra azul, sobre como eram feitas as perolas,mostrou-me o trabalho delicado do ourives, nos engastes das pedras e delicadamente como sempre fazia tocou em meu queixo levantando meu olhar até o seu falando-me –“Meu amor, ainda é muito cedo para você usar estas coisas, mas um dia vou presentear todas as minhas netas com uma lembrança minha. Isto que você tem nas mãos, são apenas pedras bonitas, não se comparam ao meu tesouro maior – seu avô, meus filhos e meus netos e netas. Vocês são o verdadeiro tesouro.E as coisas verdadeiras moram no coração. O resto Mariame, são apenas pedras bonitas"...
Entendi o recado – nunca mais abri o baú...
Nos tempo do casarão azul, para onde as crianças da família eram levadas nas férias, dando sossegos aos pais e atormentado a avó... Existiam locais que para nós eram proibidos. O escritório de meu avô, o quarto de vestir onde minha avó guardava seus tesouros - seus baús, seus leques, seus chales de renda e seda, e claro, a despensa! Ficava “pegadinho” à porta da cozinha – paraíso de todas as guloseimas da casa.
Nossos dias eram longos, acordávamos com o sol, a tempo de ver a retirada do leite, a alimentação dos cavalos, carneiros, porcos e demais moradores da fazenda... Após o café reforçado, estávamos livres para brincar naquele paraíso tropical.
Eu, sendo ainda muito pequena não podia afastar-me muito dos olhos de minha avó devido ao perigo de alguma cobra, o rio de corredeiras fortes e os bois. Alguns até “alongados” o que os tornam mais perigosos, segundo os peões da fazenda. Então eu ficava por perto e quando alguém se descuidava eu via minha chance de excursionar pelos lugares proibidos da casa. Meu avô sempre estava lendo em seu escritório ou na varanda, fumando seu narguilé, então restava o quarto principal... No alto da escada, porta sempre fechada – mistério!
Era um quarto amplo, arejado, com móveis austeros. Tudo muito limpo e arrumado, com cheiro de lavanda inglesa [eu acho] e o quarto de vestir insinuava-se cheio de prateleiras, com muitas caixas e os baús de todos os tamanhos... Não foi possível conter-me! Entrei e peguei um bauzinho de couro marrom com cantoneiras douradas [um tanto gastas], mas bonitas. Por sorte, não tinha chave... “Esta aberto”! Virei tudo em cima da cama. Sentei-me espalhando o tesouro de vovó, na colcha de crochê! Eram anéis de pedras grandes e pequenas, pedras coloridas, broches, fivelas para cabelos, alfinetes de gravata, os relógios de meu avô [tinha uma tampinha!] cordões e intermináveis perolas perfeitas. E a coisa mais linda que meus olhinhos já tinham visto! Um colar de perolas trançadas e com um pingente de coração com uma pedra azul.
Foi amor à primeira vista! E ao primeiro susto! Minha avó entrou. Olhou-me. Eu ali, muda, no meio dos broches e anéis... Ela sentou-se em silêncio. Eu havia quebrado as regras da casa! Sabia que seria castigada... Mas para minha surpresa, vovó começou a retirar suas coisas delicadamente e guardando-as no bauzinho foi contando a história de cada peça e o que significava para ela.
Quando chegou ao colar em minhas mãos, falou sobre a pedra azul, sobre como eram feitas as perolas,mostrou-me o trabalho delicado do ourives, nos engastes das pedras e delicadamente como sempre fazia tocou em meu queixo levantando meu olhar até o seu falando-me –“Meu amor, ainda é muito cedo para você usar estas coisas, mas um dia vou presentear todas as minhas netas com uma lembrança minha. Isto que você tem nas mãos, são apenas pedras bonitas, não se comparam ao meu tesouro maior – seu avô, meus filhos e meus netos e netas. Vocês são o verdadeiro tesouro.E as coisas verdadeiras moram no coração. O resto Mariame, são apenas pedras bonitas"...
Entendi o recado – nunca mais abri o baú...