A Ponte

No tempo de nossa vida que chamamos de terceira idade (e mesmo muito antes disso), sabemos ou aprendemos que *ponte significa um instrumento ou instrutura de ligação entre um lado e outro. Isso pode se dar em situação física, estática ou móvel, nas alturas ou profundezas, e até mesmo na esfera abstrata, etc.

Agora eu gostaria de, nessa pequena crônica, me abster em ponte física. Literalmente. Mas ainda usarei aqui uma ponte do abstrato, que me levou a compreender o quanto utilizamos pontes em nossa vida, em nosso dia-a-dia. Sou jardineiro, resido em zona rural e atravesso pontes todos os dias. Pontes concretas, na rodovia, na cidade e na estrada da roça.

Quando uso uma escada para proceder as podas de plantas, comparo minha escada com uma ponte em vertical, entre o solo e os galhos. Quando sou procurado por um novo cliente que me contatou por indicação de terceiros, imagino uma ponte de contato, armada por quem indicou meus serviços.

Na cidade onde eu vivo atualmente tem uma ponte de arco, velha e já comprometida pelo tempo de uso, que os moradores locais ostentam com orgulho porque um ex-presidente da república esteve presente quando da sua inauguração. Isso foi dois anos antes do meu nascimento, eu acho.

Se dedicarmos uma pesquisa honesta, notaremos que as pontes estão frequentes em nossas vidas. Isso se dá comigo, sempre. Olhando para trás e pensando rápido, admito que gostei muito quando atravessei a ponte Rio-Niterói pela primeira vez. Amei a única vez que viajei na chamada ponte Rio-Pampulha com partida de Belo Horizonte, excetuando o medão que senti na decolagem. Me encantei com a Ponta da Amizade, da vez que fui de sacoleiro a favor de uma patroa comprar muamba no Paraguai.

Tenho o costume de duas vezes ao ano tirar alguns dias de descanso como férias. Nessas ocasiões gosto de visitar meu casal de filhos, em Serro, MG. Na verdade filha e genro, mas todos são filhos no final da fritada dos ovos, como dizia meu avô. Pois bem, fiz essa viagem de ônibus, até a rodoviária da cidade de Guanhães, onde minha filha me buscou de carro, pois a rodonave na qual viajei não tinha a minha cidade de destino em seu roteiro.

A viagem prosseguia, agradável, quando depois de Sabinópolis minha filha deixou a estrada principal e entrou por um desvio de terra batida. Não fiquei surpreso pois já sabia que uma ponte havia sido destruída quando da última enchente fazia mais de um ano. O que me fez admirar foi ver a ponte ser vigiada por alguns homens e testemunhar a minha condutora sacar sua carteira e passar uma nota de vinte reais para um cidadão. Esse elemento ainda indagou se ela iria voltar no mesmo dia. Eu não entendi. Isso foi uma cobrança de pedágio, por a ponte ser em propriedade particular. Atrás do nosso veículo tinha uma fila razoável de outros tantos. Essa prestação de serviço não era legalizada nos códigos da lei. Naquela noite fiquei indagando se deveria escrever algo sobre.

Não sou bom em Matemática, mas calculei que o agiota da ponte faturaria, pelo menos, trezentos reais naqueles poucos minutos e comentei para minha filha. Ela então me disse que tem dia de acontecer até 300 travessias de veículos por ali, em um só dia. Meditei.

Ouvi e aprendi tantos provérbios e citações que nem consigo me lembrar os autores, também não gosto de decorar nada, eu não decoro nem as minhas poesias e poemas. Gosto de saber do milagre sem identificar o santo. Então, entre as muitas frases que coleciono, gosto, em especial de uma que diz; *O amor e o ódio estão separados por um passo. Acredito que o bem e o mal também, e isso se aplica a um dito popular que aprendi em minha juventude; *A vitória de um (ou a alegria) é a derrota (ou a desgraça) do outro. Tudo unido, ou separado, por uma ponte.

( Pardon )
Enviado por ( Pardon ) em 11/05/2023
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