A mãe
Eu relembro a casa com carinho. Ela não tinha varanda. O piso de tijolo batido com barro. As paredes pintadas de cal. Já gastas pelo tempo. Nas paredes se via quadros de santos. E naquela casa o silêncio pairava sobre o picumã caído dos telhados. Isso era o resultado do uso constante do fogão a lenha. Mas, era uma casa bem modesta. Tudo simples para aquela época. E a mãe lá dentro dela, sentada em uma cadeira de balanço, e claro fazendo os seus afazeres, e dizia num sorriso discreto que não devíamos nunca temer pelo futuro. E falava isso com propriedade de quem já passou outrora por isso e sabe muito bem que os filhos são partes dela. E são por assim dizer aquela parte que não parte ou que nunca deveria partir. Estes são a melhor parte de um todo e eles são como o coração fora do próprio peito. Os filhos nunca partem, mesmo que vão morar para longe. Nenhuma distância é maior do que o amor. Eles são a metade e meia dela. Eles são a entrega por inteiro. Eles são o tempo todo o pensamento. O primeiro e o último. Eles são a raiz e a semente. São a vida depois da vida. Eles são a própria vida. Não podemos impedir que sofram e esse é o nosso maior sofrimento. Sofreríamos a sua dor mil vezes para que nem uma se atravessasse no seu caminho. Dá-los-íamos à luz mil vezes para que nenhuma sombra se atrevesse a tapar-lhes o caminho. Os filhos são a nossa vida e damos a vida por eles. E mesmo assim, eles foram saindo um por um. E aquele todo estava sendo fragmentado. Não tinha como não partir. A dor imensa da partida tomava-lhe todo o seu ser e no íntimo nada se podia fazer .