ESFERAS DE TUNGSTÊNIO (BVIW)

A primeira caneta a gente também não esquece. Num tempo de minguado material escolar, em que uma caixinha de lápis com seis cores era um luxo, uma caneta então era algo inconcebível. Tive minha primeira caneta no ginásio, quando ela tornou-se obrigatória. Era uma Bic azul ponta fina, de revestimento amarelo, tampinha da cor da tinta. Mas o fino mesmo era a esfera de tungstênio, coisa que eu não sabia o que era, mas achava muito chique, quando ouvia no rádio uma voz profunda fazendo a propaganda.

A Bic era um sonho de consumo, e só me decepcionava quando o bico vazava, provocando um desastre ambiental nos bolsos, na sacola dos livros e onde mais encostasse. Foi com a Bic que arrisquei meus primeiros poemas. E como era bom vê-los escritos à tinta! Depois da primeira caneta, outras tantas vieram — a título de curiosidade, uma caneta tem capacidade para 2 quilômetros de escrita, depois disso, encerra sua missão na Terra. E fico mesmo a cismar: quantos quilômetros em prosa e verso escrevi até a chegada do computador que, para mim, só aconteceu em 2006? Quisera eu saber.

Depois de aderir às teclas, abandonei um pouco as esferográficas. Mas há uma que entrou para minha história: a que ganhei para autografar meu primeiro livro. Não sei se a esfera é de tungstênio, mas veio numa charmosa caixinha preta e traz meu nome gravado. Essa também é um patrimônio memorial. E, claro, há de ter sempre seu lugar de honra.

Tema da semana: Com quantas canetas escrevo (crônica)