MESMO ESTUDANDO PARA SER PADRE NUNCA FUI SANTO
Todo mundo tem alguma reminiscência de vários tons. Ora boa, alegre ou ao contrário. A maioria está relacionada ao mundo infantil, quando se formava aquela patotinha e começava a aprontar alguma traquinagem. Comigo não foi diferente, apesar de me envolver mais no embalo dos mais velhos, ficando com um pé na frente e outro atrás. Apesar da pouca idade, talvez por me envolver sempre com as coisas da igreja, já sentia no íntimo quando estava praticando algo muito errado. Mesmo assim, para não passar por frouxo, covarde, sei lá, lá ia eu como embalista. A minha patota neste caso se resumia mais numa dupla: eu e meu irmão, ou mais precisamente, pelas ideias malucas, ficaria melhor dizer meu irmão e eu. Vamos aos fatos: Havia um senhor que tinha alguma deficiência mental, cuja família morava no centro da nossa cidade e o acolhia para alguma refeição e higiene. Porém, para dormir ele usava um galpão todo bagunçado, sujo, uma verdadeira pocilga contíguo à nossa casa quando ele aproveitava para confeccionar seu rapé e divagar bem a vontade quanto a sua vida vazia. Certa ocasião meu irmão me chamou para invadirmos o tal salão deste senhor com a missão de esconder os aparatos com que ele fazia o tal torrado. Pois toda a noite com aquele barulho interminável quase não se conseguia dormir. Então resolvemos colocar nossa plano em ação e conseguimos esconder o tal pilão que ele usava para aquele seu serviço. Dito e feito. Naquela noite dormimos tranquilos pois não ouvimos nenhum barulho estranho daquele senhor pilando o fumo para fazer o seu costumeiro rapé. Ficamos com dó e no dia seguinte resolvemos colocar tudo de volta no mesmo local e, consequentemente, o barulho voltou desta vez mais forte, como se fosse até uma vingança, como se ele quisesse dizer: ontem eles me deixaram de castigo, hoje o castigo pra eles vai em dobro. Dito e feito também. A vingança estava realizada. Depois só foi pedir perdão a Deus no momento da confissão.