A NEFASTA DEPRESSÃO *

O assunto é chato, mas extremamente sério: quem já não passou ou ainda passa por algum período de depressão?

Segundo artigo das Doutoras Analice Gigliotti, Elizabeth Carneiro e Sabrina Presman publicado na Veja Rio em novembro de 2020: “Dados recém-divulgados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2019, do IBGE, apontam conclusões que nós, profissionais de saúde mental já observamos de perto nas clínicas e consultórios: um crescimento significativo do número de casos de depressão no Brasil. Segundo a pesquisa, 16,3 milhões de pessoas com mais de 18 anos sofrem da doença, um aumento de 34,2%, de 2013 para 2019. A PNS traz outras informações interessantes: as regiões urbanas registram a maior prevalência de casos de depressão (10,7%), enquanto nas áreas rurais o índice é de 7,6%. Estados do Sul e Sudeste têm 15,2% e 11,5%, respectivamente, de adultos com diagnóstico confirmado de depressão. Em seguida aparecem Centro-Oeste (10,4%), Nordeste (6,9%) e Norte (5%). Quando analisados os dados por sexo, as mulheres são as que mais sofrem de depressão: 14,7%, frente a 5,1% dos homens. Os idosos entre 60 e 64 anos representam a faixa etária com maior incidência: 13,2%.” (https://www.vejario.abril.com.br). Este artigo traz dados de antes da pandemia, mas já mostra o que talvez muita gente já soubesse: depressão é um problema preocupante e as mulheres, por assumirem uma carga mais pesada nas responsabilidades e tarefas do dia a dia e da família são as mais atingidas pelo mal. Mas ele atinge gregos e goianos.

Para alguns mais leigos no assunto (pra não usar um termo mais vulgar), depressão é frescura, ou, para alguns que são ainda mais “leigos”: “Isso é falta de p... ou de b...!”. Mas só quem já passou ou ainda passa por algum tipo de depressão sabe o quanto essa “maledetta” nos rouba o ânimo e a vontade de viver.

Não tenho por que esconder que já fiz terapia e uso antidepressivo e remédio para dormir. Como diria minha irmã: não adianta tentar esconder a cabeça debaixo da terra se a bunda fica de fora. Perdas, fins de relacionamento, crises psicológicas e dificuldades financeiras são coisas que sempre me atingiram e talvez sempre vão atingir. Devido a escolhas precipitadas, também me vi recentemente numa situação de desemprego e volta à cidade natal que eu não tinha planejado – embora hoje eu agradeça ter voltado, por motivos que já mencionei nesta coluna. Isso, mais o fato de ser poeta – nós sofremos em dobro – sempre me inclinaram à tristeza e a uma possível depressão. Posso não aparentar, mas perdas – principalmente fins de relacionamento – me fazem sofrer mais que o cavalo do bandido. Se não cogitei o suicídio foi um pouco por medo da morte e grande parte por pensar no trabalho que daria para os que ficam. Não estou procurando atrair a piedade de ninguém por que não sou coitadinho. Apenas quero dividir uma experiência que é muito mais comum do que se pensa. E, no final das contas, sempre percebi que meus problemas financeiros, existenciais ou amorosos são ínfimos diante do que tanta gente boa enfrenta

Infelizmente a pandemia fez aumentar ainda mais os casos de depressão, por conta de consequências como desemprego, isolamento social e, principalmente, perda de pessoas próximas devido ao nefasto vírus. Graças a Deus e à Ciência, hoje a maioria da população está vacinada. Mas as sequelas permanecem, as pessoas que perdemos não voltam e os casos de variantes do vírus continuam preocupando, tornando-nos contínuos candidatos a crises de ansiedade que podem levar à depressão.

Depressão é doença séria. Se não for tratada, pode levar a consequências que é bom nem pensar. Não é feio procurar ajuda de um médico ou psicólogo.

Mas aí chegamos a uma pergunta séria: levando-se em conta que os médicos e psicólogos também são humanos, o que seria de nós se todos eles surtassem?

*Texto escrito quando a pandemia ainda estava no auge.