UM JORNALEIRO... NA ACADEMIA !
UM JORNALEIRO... NA ACADEMIA !
"...me parece que não é uma
boa idéia eu entrar para a
ALANIN, sou muito polêmico"!
(trecho de MSG para confrade)
Nesta bela tarde de domingo "de inverno" -- isso não existe no Pará -- escrevo no quarto abafado, telhas de amianto no teto e uns 35 graus lá fora. No quintal, o "espantalho esquelético" do belo jambeiro frondoso que um incêndio "devorou". "Suo EM BICAS" (?!) -- essas expressões antigas são bem curiosas -- mas estou feliz ! Graças a um sobrinho-xará temos hoje um auxílio monetário que transforma a Vida "quase num paraíso". Acordar cada manhã com a certeza de que s terá o que comer por todo o dia é um alívio, nos traz uma paz que nem todo pai de família tem. Até os 67 anos, meu irmão gêmeo e eu começávamos cada dia sem 1 centavo e, às vezes, fazíamos compra fiado torcendo para que, na manhã seguinte, a gente produzisse o suficiente para quitar os 2 dias.
Esses "perrengues" se foram... me sobra grana para pagar a lanhouse na qual digito esses textos todos -- a 6 reais a hora, "um assalto" -- e até para o picolé diário, lá pelas 8 da noite. Os tempos magros de jornaleiro ficaram para trás... você que os vê nas ruas mal sabe que é a mais ingrata das profissões, só a esperança os sustenta e, por vezes, nem ela se apresenta. "Perde-se dinheiro" todos os dias e, só aos domingos o vendedor vê LUCRO, lucro real, já que ele PAGA os jornais que não vender... e pelo preço de capa, salvo engano, como se os estivesse "comprando". Ainda tem os "fiados", que alguns "enrolões" conseguem deixar de pagar ao jovem que os servem.
As Academias Municipais, em cada cidade, "subvertem" a "norma vigente" (?!) desde que Machado de Assis, entre outros, fundou a primeira e maior, lá por 1897, de nela só entrar -- convidado ou aceito -- "figurões" das Letras, da Imprensa ou da Sociedade, preterindo os mais modestos, humildes. Pois as Academias em cada município estão abertas a qualquer um ou uma que queira LUTAR pelo engrandecimento das Letras, da Literatura e pela expansão da leitura, "livros às mancheias", livro na mão e no coração de cada criança. Em vez de "escolas militares" -- com marchas diárias e obediência cega -- que tenhamos MAIS ENSINO das Artes todas, da Música, da Poesia... escolas PARA A VIDA, para formar cidadãos e não vândalos.
Só mesmo numa Academia de cidade um ex-jornaleiro poderá entrar... e pela porta da frente ! De repente me vêm a mente meus primeiros dias enquanto jornaleiro: para vender mais jornais eu INDICAVA na Redação aos jornalistas pessoas, fatos e problemas locais que, cobertos pela reportagem, ampliavam nossas vendagens, tanto no O Liberal quanto no concorrente Diário do Pará. Aproveitava a visita a Redação do DIÁRIO -- ainda na Doca, pra quem não sabe, lá por 1987/88 -- para levar "rabiscos" meus. Achei em Cléodon Gondim um "Mecenas" que, como diretor, passou a publicar meus "escritos".
CLÉODON foi além... sustentou pelas páginas do Diário do Pará -- no seu "ESPAÇO ABERTO" de saudosa memória -- interminável "bate-boca" entre eu e Alfredo (Bragança ?) Garcia sobre os rumos da APE -Assoc. Paraense de Escritores, incomodando "meio Mundo", durante as eleições dela, em 1989. De pouco adiantou o "bafafá", a APE definhou a partir dali e desconheço se sobreviveu às disputas daquele fim de ano. O que sei é que paguei quase 2 ANOS de mensalidade dela sem praticamente nenhum proveito, não consegui ver textos meus em publicações oficiais -- exceto no "Suplemento Cultural" da IOE, editado pelo prof. Ildone e com Lucinerges Couto na retaguarda -- e o "custo final" da polêmica foi tão alto que "fiquei de fora" dos 6 ou 7 "livrões" de uma super-antologia de escritores de todos os tempos, vivos e mortos. Não entrei nem no derradeiro volume, espécie de "rescaldo" com os "esquecidos" anteriormente.
Enfim, o jornaleiro há de entrar para uma Academia... faz uns 6 anos que tentei entrar na de Cordel, esta lá no Rio, 360 "paus" anuais. Polemizando sempre, argumentei que pagaria a metade da taxa, afinal faltavam apenas "4 meses pro fim do ano". Nem me responderam ! Por volta de 2017 quiz entrar, aqui em Belém, para a recém-criada APLC... dei azar, numa lanhouse usaram meu nome no Facebook para xingar o Cláudio Cardoso, presidente dela. Além disso, enviaram fotos de gente pelada para amigas minhas. O Cláudio "partiu" acreditando que eu faria uma sandice dessas e usando o próprio nome ! E aqui estou, no ano da graça de 2023, prestes a entrar numa ACADEMIA: Jornaleiro IMORTAL, com muito prazer !
"NATO" AZEVEDO (em 7/maio de 2023, 14hs)