NUNCA É TARDE DEMAIS.

Que semana corrida, há tempos que eu não tinha uma semana assim, tão atarefada, cheia de afazeres e desafios. É estranho o tipo de sentimento dentro do meu ser neste momento, permitam uma breve explicação. Não é algo novo de que eu nunca antes senti... Não, nada disso. É mais do mesmo, porém em uma ótica totalmente diferente das anteriores. Ou vai dizer que você nunca sentiu ou experimentou sensações já conhecidas, vividas, mas, em uma nova ótica. Aquela situação já esquecida retornando em uma roupagem nova, com um perfume diferente, reclamando a atenção pela forma de adentrar na sua vida.

Como eu já disse em tantas e tantas crônicas, não me cansarei de repetir. No ano de 2002 eu era um jovem dando os seus primeiros passos dentro de uma empresa metalúrgica. Na época eu trabalhava em um supermercado, do meu tio, exercendo a profissão de açougueiro. Surgiu a oportunidade de ingressar na empresa, logo, aproveitei, como eu nunca havia trabalhado em fábrica antes, tudo era novidade, eu não conhecia nada referente a nova profissão. Embora já cansado do ambiente de mercado, encarei com ânimo e certa dose de medo o novo desafio que se descortinou repentinamente.

É claro que há mais de vinte anos atrás, as coisas não eram como são agora. Refiro-me às atualizações da empresa, das normas regulamentadoras e técnicas de trabalho. Havia sim todo um cuidado com a segurança, não como existe hoje, mas, havia sim os seus cuidados. Afinal, o risco de acidente era muito alto dentro da fábrica. Eu entrei no setor de reforma de fornos, conhecido na época como refratário. O setor era responsável pela manutenção das cubas de redução de óxido, que de modo simplificado, o óxido de alumínio tinha as suas moléculas quebradas em uma combinação de calor e reação eletrolítica vindo acumulando-se na forma de metal líquido, que por sua vez era transformado em lingotes e tarugos no setor de fundição.

O trabalho era pesado, tínhamos que fazer a completa remoção do material refratário velho e revesti-lo com um novo. Para isso, usava-se máquinas e marteletes rompedores pneumáticos para tal. Adentrando no forno ainda quente para fazer a quebra e retirada dos tijolos velhos. Depois de limpo, era refeito toda a aciaria refratária nova. Também usava-se doze blocos catódicos enormes como resistência, mais de sete mil tijolos refratários em um único forno. Um trabalho belíssimo, que, infelizmente, não tem o devido valor. As reformas dos fornos da fundição era nossa responsabilidade também. Outro trabalho digno de artistas. Éramos artistas e não sabíamos do nosso valor.

O tempo passou, o preço de tanto trabalho foi cobrado. Coluna com parafusos, demissão. Antes de ser desligado experimentei muitas das novidades e regras de segurança cada vez mais duras Porém, veio o dia tenebroso, ainda bem que tudo passa. Seis anos depois de sair, estou novamente de retorno na empresa. Agora, por uma terceirizada, fazendo o trabalho civil. O corpo não é o mesmo, nem cabeça é a mesma de vinte e um anos antes. Este que lá estará, têm outra visão de mundo. Quisera eu, naquela época lá de trás ter a cabeça e a experiência que tenho hoje... Quantas coisas não seriam diferentes. Sei apenas que nunca é tarde demais para viver os nossos sonhos e realizações. Que eu aproveite com sabedoria esse novo tempo.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 07/05/2023
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