OBITUÁRIO
Quem são essas pessoas diagramadas neste obituário e que por meio dele soube que morreram? Há uma secção inteira de rostos inanimados. Ilustres desconhecidos que perderam a vida e que faço questão de nominar: Therezinha, Dennison, José, Thalita, karolyne, Jacicleide, Adriano, Maria, João, David, Claudimar.. - Jazem mortos e enterrados. Quem agora presta atenção neles, senão para vender jornal? Datas, nomes, fotos... - De quem eu nunca conhecerei.
Dona Terezinha morreu em João Pessoa, de causas naturais; Dennison morreu, aos 33 anos, vítima de homicídio; José, 43 anos, afogou-se em um açude do Cariri paraibano; Thalita dormia, quando morreu carbonizada, após um incêndio em sua casa, no bairro da Glória, em Campina Grande, aos 30 anos. Karolyne, 22 anos, grávida de três meses, foi assassinada à tiros pelo ex-namorado, em Patos. Também vítima de feminicidio, Jacicleide foi morta à pedradas, em Campina Grande, após briga de casal. Adriano caiu de uma altura de quase dez metros quando trabalhava em uma fábrica de laticínios, no Conde; estava com 38 anos de idade. Maria, 60 anos, era paraibana e foi encontrada soterrada nos escombros de um prédio que desabou, em Olinda -PE. João, diagnosticado com transtornos mentais, tinha 18 anos quando foi assassinado, numa banca de frutas do município de Alhandra. David, 70 anos, era fotografo, e morreu por complicações decorrentes de um AVC, na capital paraibana. Claudimar, era natural de João Dias, no RN; envolvido com drogas, acabou assassinado no bairro Tancredo Neves, em Catolé do Rocha. Mesmo assim, ainda não os conheço.
Ao expor essas historietas que agora desbotam pelo linotipo deste periódico, já quase deslembrados, carregarei a culpa de relatar apenas a causa Mortis, que é estatística. Não fui honesto com aqueles pais, filhos, avós, tios, mães, amigos... - Poderia ter contado quem foram e não porque se foram. Mas, também, não adianta mais. Por ora, revividos, morrerão outra vez, em seguida, ao virar esta página... - Até que todos estejam esquecidos.