Tavinho!

Tavinho!

Meu companheiro de fazenda. Tem 5 anos. Verdadeiro VO, Valente de Origem. Não tem medo de agulha, gosta de ouvir casos de onça, lobisomem. Imagina, ele tem coragem de ir até a porta do quarto, de lá, da porta, olhar se tem alguma coisa lá, debaixo da cama... tem não João!

Estes dias, estou estranhando, mal, mal escurece, ele desconversa e... João, vou lá para casa... e recolhe à segurança da casa da mamãe.

Não tiro sua razão, é quaresma... pelo sim pelo não, é quaresma!

Quaresma me faz lembrar de acontecidos aqui na fazenda, ai conto para o pai do Tavinho, ele ao meu lado, ouvindo:

Há muito tempo, não lembro bem mais, contratamos um peão para olhar o gado do Xexéu. Era um senhor maduro, mais ou menos 50 anos. Ficou ali, onde é aquela tapera, ali onde espantamos aqueles morcegos, perto da gameleira, do cocho de sal e da moita de bambu. Tudo muito promissor. Durou 3 dias.

Senhor João, o senhor me desculpe, vou embora!

Aí, com muito custo, me segredou a razão da sua partida tão repentina.

Senhor João, mal, mal escurece, começa um burburinho no bambuzal, a gente não compreende, é choro, riso, lamentação, conversas de crianças, idosos, uivados, miados, latidos, vai ficando mais tarde, debaixo da gameleira, fica como se fosse um pagode, musicas, balados, gemidos, ganidos, lamentos, suspiros, queixumes, coisas esquisitas, coisas de outro mundo...

Senhor João, vou embora!

É, o Tavinho tem razão.

É quaresma!

Joao dos Santos Leite
Enviado por Joao dos Santos Leite em 06/05/2023
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