A Gruta do Santo (2014)
A desesperada busca pelo amor levara Pedro à porta da gruta do Santo. Era dita como um lugar mágico, e lá acharia a resposta. Em teu umbral, defronte a negritude de teu interior, gritava inconsolável:
_Ó Santo, Santo, poderias tu dizer-me o nome de meu amor, aquele que as estrelas não ousam me revelar, que me esconde o espírito, que me oculta a vil cigana?
E o Santo lhe responde “Ana... Ana...”
_Como pode ser Ana? Não pertence a João seu coração?
E o Santo lhe responde “Não... Não...”
_Ó, pobre de mim! Como posso competir com tão nobre homem? Como quer que teu coração eu arrebate?
E o Santo lhe responde “Mate... Mate...”
_Mas como com tão forte homem? Me derrubaria antes que movesse um dedo!
E o Santo lhe responde “Medo... Medo...”
_Toma-me por covarde? Farei e provar-te-ei minha honra. Mas como, em mil anos, fechar-lhe-ei a matraca?
E o santo lhe responde “Faca... Faca...”
_Desafiarei o homem para um duelo. Não, não posso lutar contra um homem tão forte...
“Morte... Morte...”
_Homem forte, astuto. Como se mata um rei que nunca sai de seu trono?
“Sono... Sono...”
_A noite! Homens fortes em teu leito se deitam. É a hora dos assassinos. Levá-lo-ei para o buraco!
E de lá correu, para nunca mais voltar, sem ouvir o Santo, que lhe sussurrava “Fraco... fraco...”
Dias se passam, e Lia vem à gruta, molhada do pranto, e ao Santo exclama
_Maldito seja o marido de Ana! Sem pensar, matou o meu amor!
E o Santo lhe responde “Dor... Dor...”
_Me doi! Quero vê-lo novamente, Santo. Peço para que me socorra!
“Morra... Morra...”
_Sim, o fim! Com isso, serei feliz, e ficarei ao seu lado pra sempre!
“Sempre... sempre...”
E em silencio o Santo permaneceu, enquanto o sangue de Lia caia em teu umbral. Quando o corpo foi achado, a cidade em rebuliço exclamava à porta da gruta, horrorizada. Mas da casa do Santo só se ouvia os gritos estridentes das festas do paraíso.