Um peso a menos
Por muito tempo, eu sofri por ser mais alta do que a maioria das crianças da minha idade. Embora ser grande tenha me rendido elogios, também havia o lado chato, que era lidar com a inveja das outras meninas e as cobranças que eu sofria. Era comum que os adultos me cobrassem que eu me comportasse como uma “moça” e que eu ouvisse reclamações dos mais velhos, que diziam: “meu Deus, uma moça desse tamanho não sabe se comportar! Tão grande e tão besta!”; “desse tamanho e chorando desse jeito”. Tudo isso me levou a detestar ser alta porque eu não queria ficar uma Cláudia Raia e eu ainda achava chato o fato de sofrer tanta pressão para me comportar como se fosse mais velha. Quando eu cheguei à adolescência e meu crescimento desacelerou, eu achei ótimo porque, para mim, ser considerada alta só significava sofrer cobranças. Por muito tempo, eu desejei ser pequena, magra e delicada. Eu até fantasiava que era japonesa e era pequena, mignon mesmo. Claro que a fantasia não se concretizou e, por muito tempo, eu não me aceitei como sou, principalmente porque havia pessoas que me masculinizavam, dizendo que eu deveria treinar muito para ficar bastante forte e carregar coisas pesadas.
Hoje, entendo que o problema não estava em mim, mas nas pessoas que não entendiam que o fato de uma pessoa ser mais alta não significa que ela tenha que ser mais esperta, mais madura ou emocionalmente forte e isso tirou um grande peso dos meus ombros. Ser mais alto é apenas ser mais alto. Uma pessoa pode ser muito alta e ter suas fragilidades emocionais e ser imatura pois, como se diz, tamanho não é documento. Quanto a ser esperto, isso também depende da vivência, ou seja, do quanto a pessoa viveu e presenciou. Quanto mais uma pessoa tem experiências, mais ela aprende.
Um belo exemplo de que altura não tem nada a ver com ter uma estrutura emocional forte é o da bela e sofrida Margaux Hemingway, neta do escritor Ernest Hemingway. A jovem, além de ter 1,82 metro, era dona de uma grande beleza e chamou a atenção por sua beleza, tendo sido chamada para trabalhar como modelo e se tornando uma celebridade da moda nos anos 70 nos Estados Unidos. Chegou também a fazer filmes. Entretanto, a jovem acabou se tornando uma vítima do sucesso, com o qual nunca soube lidar. Margaux sofria, desde muito jovem, com dislexia, epilepsia, bulimia, depressão(um mal da família Hemingway) e insegurança. Os seus problemas de saúde mental e as suas angústias a levaram a se envolver com drogas e álcool e a jovem, além de afundar no vício, teve de enfrentar o declínio de sua carreira de modelo- o que a fez chegar a pedir falência- e a falta de oportunidades no mundo cinematográfico. Tanto que, em 1996, com apenas 42 anos, ela tirou a própria vida ingerindo barbitúricos. Vale mencionar que, na família Hemingway, cinco pessoas cometeram suicídio, o que mostra que a depressão é uma doença séria e que precisa ser tratada.
Por que estou falando sobre a trágica vida de Margaux Hemingway? Simplesmente porque a vida dela me mostra que o biótipo de uma pessoa não tem de, necessariamente, determinar sua personalidade. Uma pessoa pode ser alta e imponente e ter uma grande fragilidade emocional e temos de respeitar o jeito de ser de cada um, sem cobrar que seja desta ou daquela forma. Hoje, além de me aceitar mais, sinto que tirei um grande peso dos ombros ao entender que não tenho obrigação de ser de uma determinada maneira por causa do meu tipo físico.