O CNSC de então e de agora
Dizia-se Nietzsche ser “o mais dissimulado dos dissimulados”. Vive-se assim: ora simulando, ora dissimulando... Interpreto que a realidade, para ele, é um constante vir-a-ser e um não vir-a-ser. Essa experiência dialética constrói que o conceito de realidade se livre dos limites de uma suposta conceituação, logicamente fixa e sólida, isto é, matemática, quando, a cada átimo, tal realidade é submetida a uma visão mutável, relativamente saída do nosso “eu” ou do nosso “nós”. Seríamos para Nietzsche, como personas do teatro grego, em cada peça, com uma máscara diferente. E em todas as peças, no palco da realidade, variando, sob o ângulo analítico de cada um de nós e quanto, subjetiva e objetivamente, também limitados no campo conceitual da realidade do agora e do passado.
Em Une Éthique de l’Apparence (Uma Ética da Aparência), de Patrice Bollon, cita-se Montaigne afirmando que não se aceitem as aparências ou as eventuais máscaras tais quais como elas se apresentam; mas, usem-se as “máscaras em circulação”, preservando-se a liberdade individual de cada um. Enfim, a aparência de uma realidade não é, logicamente, o seu contrário. O recurso engenhoso de simulação não prejudica o projeto da autenticidade, na consciência de quem simula.
Simulei, sábado passado, em Itabaiana, ser o mesmo aluno, sentado na mesma carteira, na mesma sala de aula da Irmã Lenice, do Colégio Nossa Senhora da Conceição (CNSC), entre 1955 e 1957, durante as comemorações, pelos seus ex-alunos, dos “70 anos do CNSC”. Essa festa era a realidade, naquele 29 de abril, quando simulei uma outra realidade do passado. Entre o passado e o presente, haveria duas realidades ou uma só em continuidade, conforme se define o continuum do tempo? Naquele momento da simulação, as realidades eram conjuntos que se intercediam, a do passado de 1957 com aquelas de 2023? O que seria teatro ou o que seria real? Nesse aspecto, o imaginário toma conta, passa ser aparência e também acontece, simultaneamente, a simulação e a dissimulação, a partir do momento em que deixei de ser a criança de 8 ou 9 anos, para assumir a real idade dos dias de hoje. Era o mundo da aparência se contrapondo com o das fantasias e com os dados da vida real.
Quando a gente não se esconde do passado e não tem motivo para isso, reativa-se a memória e, sobretudo em companhia das e dos ex-colegas daquele Colégio, cujos espaços, paredes, teto e chão, fizeram retroagirmos aos anos idos, ao tempo das descobertas, na infância; da nossa inocente consciência ou do despertar da adolescência. Houve Missa, discursos, lanches, almoço, música e danças, mas o importante, que relevo, foram os antigos e belos mosaicos que eram o piso dos corredores e das amplas salas de aula. Nesse contexto, não faltou a carteira de madeira Cimo, em que me sentava e em que me sentei, tampouco, tal e qual, lugar do tinteiro e da caneta...
Se existem várias realidades, ocorreram algumas que não nos motivam relembrá-las, e até suportamos não as esquecer. Mas, ao contrário dessas, subsistem as realidades ou pedaços de uma única realidade que amamos e até desejamos que se repitam, quando teríamos aprendido evitar as faltas e os erros cometidos, que são, às vezes, mais lembrados do que as melhores praticadas virtudes.