COTEJANDO A INSPIRAÇÃO

Tenho lido alguns artigos ou crônicas no RL e deparei com muitos escritores(as) buscando inspiração para escrever e sobretudo indagando onde essa palavra mágica se escondeu, pois não as têm encontrado mais nos instantes que desejam, ou então surge em momentos inoportunos acabando por frustrar o surgimento de uma boa poesia ou de uma boa crônica. O curioso é que esses escritores(as) ao escrever sobre essa procura, não percebem que já estão achando uma forma de inspiração, considerando que toda escrita, por mais diverso que seja o tema sempre retrata uma idéia luminosa que, independentemente, de sua essência, depende da luz da mente para poder trazer o brilho necessário que possa dar contornos ao assunto, fazendo com que o leitor se interesse pela idéia em desenvolvimento. Assim, para mim, a inspiração é a própria escrita que não precisa ser buscada em fatos mirabolantes ou de grande expressão no contexto da realidade fática, bastando que o escritor queira abordar sobre algo. É o mesmo que uma conversa, onde uma pessoa se expressa no sentido de que a outra (receptora da conversa) possa entender o que é dito. Destarte, numa conversa informal qualquer pessoa pode desenvolver um “bom papo”, por que então para escrever as coisas ficam mais difíceis?

O fato é que eu questiono essa questão do escritor esperar que haja uma inspiração para poder escrever. Acho sim que o escritor tem de ter um tema, pois a inspiração - para mim pelo menos - não é uma coisa que vai e que vem, mas sim um substrato de minha vontade, abrilhantada pela minha experiência de escrever, ou seja, havendo uma idéia do que escrever, a forma e a disposição de como eu vou passar essa idéia para o papel, obedece, rigorosamente, o poder de criatividade e de discernimento do escritor.

Creio que as reclamações vividas por alguns escritores quanto a essa questão está relacionada com a falta do quê escrever. Aí sim concordo plenamente que muitas vezes estamos dispostos a escrever sobre alguma coisa, mas o tema não surge e daí confundimos a ausência de matéria com falta de inspiração. Pra mim a inspiração para quem gosta de escrever é como se fosse uma pecinha automática que se liga sem precisar apertar em algum botão, mas que é acionada sempre que necessitamos do seu funcionamento. Ou melhor, a inspiração é um ingrediente de comunicação com nossa alma e com nosso coração, porque engloba sentimento. Neste aspecto há um poder de graduação para cada pessoa, pois existem pessoas mais sensíveis que as outras e certamente aquelas que são mais observadoras e mais românticas, sempre estão na frente das demais, pois a inspiração também é a junção de emoções fortes com emoções racionais, sobre as quais deve haver um certo controle, para não se correr o risco de tornar mal aceita a forma de expressar o sentimento.

Por outro lado, a maioria dos escritores são emotivos por excelência, por isso buscam nesse lance de comunicação com seu interior, uma fórmula segura para aflorar a beleza do cenário que descreve ou dá tanto ênfase à sua narrativa que consegue despertar o poder da contemplação de quem se utiliza da leitura. Por tal razão, se fizermos uma brincadeira reunindo três escritores e colocando sob a tutela de cada um deles um tema alvo, que seja comum à todos, para que escrevessem coisas lindas que tocassem a alma das pessoas, certamente que cada um desenvolveria uma narrativa distinta, porque cada um deles estaria buscando na sua alma todos os encantos que aquele tema pudesse tocar o leitor. Nesse caso estaríamos verificando a inspiração de cada um. Aliás, daí a beleza da existência humana, onde cada ser, por mais que seja semelhante, jamais será igual, porque nossos pensamentos não são ondas de rádio que se dissipam no ar levando mensagens imutáveis sobre o ponto de vista da criação. As ondas de nossos pensamentos são exclusivamente pessoais, daí a razão da existência das infinitas idéias que se vê no dia-a-dia do Recanto das Letras, onde seus escritores estão sempre surpreendendo com crônicas, poesias, contos, artigos etc, de conteúdo cada vez mais enriquecedor no que diz respeito à cultura e ao entretenimento.

Assim, creio não ser exagero acreditar que a inspiração não é uma onda que oscila conforme o vento, como são as ondas do mar. A inspiração é um sentimento renovável e constante no íntimo do escritor. A escrita funciona para mim (não sei se os outros pensam assim) como uma máquina que precisa de aceleração para aumentar sua velocidade, mas que deve ser abastecida com o combustível chamado tema, que depois de sua existência dependerá do operador acionar todas as suas engrenagens, dando-lhe a aceleração suficiente para que surja um excelente texto.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 14/12/2007
Reeditado em 14/12/2007
Código do texto: T777925