Silêncio

Contava-me sobre as perdas dos últimos anos e o processo de luto que estava vivendo. Um primo, em meio a tantos finados, era a perda mais indigesta. Muito embora tenha ficado curiosa, não lhe perguntei sobre a causa da morte, meu papel não era indagar, mas apenas ouvir o que precisava ser dito. Era alguém muito significativo, de abraço expressivo, uma “alma gêmea” segundo suas próprias palavras. O fato é que em certo ponto da conversa a emoção a fez calar, o olhar se perdeu e todo um esforço foi feito para segurar o choro. Ela estava vivenciando novamente aquilo o que em breve soltaria em palavras. Não a vi nem por duas vezes na vida, mas presenciei o que há de mais íntimo em seu ser. Apesar da emoção e do contexto, o momento não pedia abraços, nem palavras de superação e acalanto, pedia apenas silêncio. Era solitário como deveria ser, no entanto era preciso que alguém estivesse junto para ouvir o seu silêncio catártico.

Observadora de mim
Enviado por Observadora de mim em 03/05/2023
Reeditado em 03/05/2023
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