FUGINDO DO PAPAI NOEL

Logo estarei longe desta minha cidadezinha onde, como em qualquer lugar nestes dias de dezembro, as engrenagens natalinas estão acionadas e todas as peças se encaixam ao som de Jingle Bells. Eu que já vivi Natais bem mais modestos em sua forma de expressão externa, sinto um certo cansaço dessa parafernália natalina, esta visão consumista do Natal dos Schopping Templos, uma festa a mais no calendário que foi incorporada ao linguajar do consumo. Mas quero paz, seja qual for! A partir de agora começou minha contagem regressiva para a felicidade, não estou "nem aí " mais para esses discursos catequisadores e o lançar de minha voz contra os devastadores da Amazônia, os desmandos de fulanos, contra as maldades de sicranos, o planeta, o Dossiê do Bush "sobre" Lula e o PT.

Estou querendo mesmo é ficar alheia e desejava, isto sim, num salto de atleta, de Mulher Gato, de Super Heroína, poder pular esta parte e sair novinha no novo ano, sem ter visto nada destas mudanças formalizadas em festas e efusões instituídas, sem ter cumprido o ritual do qual não conseguimos nos livrar, nem indo para o interior do interior, porque lá a TV já chegou faz tempo e tudo já se traveste com os ares das novidades gerais da modernidade.

Difícil é mesmo ficar imune às exacerbações natalinas e do Ano Bom (como dizia meu avô). E tenho tanto medo de ter que encarar este que vem por aí, pois mesmo se tratando de uma fantasia, de uma espécie de alucinação coletiva, um estremecimento geral das carnes, um "sacode a poeira e dá volta por cima", eu tenho mesmo medo, pois numa louca fantasia particular eu verei este mundinho que construí nos últimos meses, a duras penas neste virtual onde nos tocamos, ser interrompido bruscamente. E dele nada restar estando de volta, após ter me afastado do convívio da telinha, para ir olhar o mar sem fim em uma praia, apesar de serem apenas umas férias.

E é tão louco este remexer das vidas nesta época, que há poucos dias, como ele mesmo se intitula, um FÃ FÊNIX, renascido dos sombrios movimentos internéticos, apareceu na minha caixa de correspondência para reafirmar sua admiração por meus escritos e me dar um daqueles elogios de fazer tremer até escritor dos mais aplaudidos, como o dito "renascido" fez há exatamente um ano, para sumir feito cometa. E agora, naturalmente, ele baixou neste terreiro e sumiu de novo. E haja "antivírus" para conseguir superar tantas "surpresas" advindas desta caixinha mágica ligada à tomada. Além disso, temos a fragilidade dos relacionamentos virtuais. Mais de uma pessoa já me disse,da mesma forma, que gostava de mim, gratuitamente. Aí fiquei a pensar que gratuitamente talvez queira dizer, sem que eu como pessoa tenha motivado tal sentimento. Que elas gostam na verdade é de minhas palavras, das idéias, de algo que lembram ao tomar contato com minha página, um conjunto de coisas que na verdade não sou eu. Mesmo assim é uma forma de ser muito intensa, onde nos escrevemos e interagimos. Hoje eu recebi uma mensagem tão carinhosa onde a pessoa me agradecia por ter lhe proporcionado tão bons momentos ao ler meus textos. E não é isso que desejamos ao publicar? Que as pessoas leiam e reconstruam dentro de si algo de bom, a partir do que dissemos?

Ao pensar em sair desta cidade pela primeira vez sem meu companheiro de tantos anos, eu que sempre reclamei de ter que entrar o novo ano em casa, agora sinto uma nova espécie de inquietação, pois ele fica e eu vou. E esta nova separação após sua morte talvez seja a mais difícil, pois logo os meus passos estarão repisando o mesmo calendário tendo ele ficado pra sempre no ano que não viu terminar. E ela vai me deixar tão descomposta que terei dificuldade de juntar os pedaços quando os fogos se apagarem nos céus de 2008.

E daqui do Recanto ficarei afastada, ficarei incomunicável com os poucos leitores que me deixaram tantas palavras durante este ano, palavras tão especiais que seria difícil, é difícil mesmo, captar de que forma inusitada nossas almas se tocam. Existências virtuais são fugazes se comparadas às existências de nossos amigos de quem podemos ter conhecimento nos cinco sentidos, cujas palavras ouvimos seguidamente com todos os timbres de voz. Mas ilusória é a idéia de perenidade que cultivamos nas nossas realidades cotidianas. Dizer isso é reconhecer uma obviedade que a bem da nossa sobrevivência mais ou menos saudável, precisamos estar sublimando o tempo todo. Haja energia.

Foi neste mundo virtual onde descobri mais sobre mim mesma do que em muitos anos de vida bovina nestes currais onde limitei meus passos e guardei minhas asas em uma linda caixa no fundo do guarda-roupa. É hora de alçar este vôo tardio, mas necessário. Um vôo difícil, com asas meio atrofiadas pelo tempo. Um vôo solitário para o interior mais profundo de mim. Mas um vôo muito especial sobre aquelas paisagens que só vislumbrei em muitos sonhos. E aí talvez se explique o fato do tema VOAR aparecer tanto em meus textos. E de eu escrever separando tanto as palavras, como quem quer se expandir a qualquer custo. E de eu ter sido desde criança uma claustrofóbica desatinada. E aí, como o meu fã Fênix, subir aos céus, explodir com os fogos do Ano Novo, pedaços espalhados por todos os lados à espera de uma reconstrução. Este quebra- cabeças existencial é o que o Papai Noel vai me dar de presente ( presente de grego?). E por mais que eu não queira receber, ele com certeza há de me encontrar, assim como a morte nos encontra quando chega a hora.

Desejo a todos um Feliz Natal e um Ano Novo muito divertido, muita música, dança, façam tudo que der na telha pois afinal, "o que se leva dessa vida são os tragos que se toma", já dizia um sábio do interior desse Rio Grande.

FELIZ NATAL !

FELIZ ANO DE 2008!

tania orsi vargas
Enviado por tania orsi vargas em 14/12/2007
Reeditado em 14/04/2008
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