É isso que eu chamo de vida!

Estimulado por uma colega extrovertida, que mostrou a mim hoje sua crônica sobre o caso a seguir, senti também o desejo de contar sobre o inusitado ocorrido da quinta-feira da semana passada, na muito bem cuidada academia federal do Ceará. A capital desse lugar, como é sabido pelos moradores locais, é bipolar - quanto ao seu clima. O início do ano sempre é bem chuvoso (se não me engano, esse ano tivemos quase cinquenta dias consecutivos de chuva). Passado esse período, é sol. Mas sol mesmo. Porém, não se pode confiar: se sai de casa, seis da manhã, com o couro ardendo, e se chega no meio do caminho, uma hora depois, embaixo de uma chuva torrencial. Pois bem, findando abril nós temos de lidar com os hormônios da cidade.

Foi nessa quinta-feira que, chegado ao tão querido campus, me deparei com salas, já no térreo, isoladas, com as devidas carteiras barrando a entrada dos alunos ao chão alagadiço. Vazava água também das paredes. Quando entrei na sala, veja a surpresa: não fiquei três minutos. A querida zeladora surgiu na porta dizendo que as aulas no bloco foram suspensas devido ao fato que a água escorreu para o quadro de energia e, a qualquer momento, um grande big-bang poderia acontecer. O professor fez nossa odisséia até a sala de reunião (com gotas que mais pareciam espinhos acertando o próprio e mais uns quinze alunos) de uma das diretorias. Tivemos aula. Ao sair, descobri a situação do bloco: no andar de cima o teto de umas quatro salas havia caído (imagine se os discentes estivessem com suas cabecinhas lá...). Em meio a xingamentos ao reitor, ao ex-ministro da Economia e ao ex-presidente (e suas respectivas famílias e futuras gerações), tive a mais fantástica descoberta, ao chegar em casa, do motivo de tão grandioso desastre: um pombo.

Sim, um pombo morreu, sei lá como, e foi parar na calha do edifício, causando uma congestão d'água. Vamos lá: o defunto de um pombo poderia ter matado, indiretamente, uns sete alunos por traumatismo craniano e, depois, outros vários por uma explosão elétrica. É ou não é um espetáculo essa vida? Lembro agora da crônica da minha meiga colega: tão lúdica... com referências à Commedia Dell'Arte, um amor não correspondido entre pombos... Eis que trago essas imagens trágicas. Ah, mas fazer o quê? Viva a interdependência das existências.

Rodrigo Hontojita
Enviado por Rodrigo Hontojita em 02/05/2023
Código do texto: T7778320
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