O MENINO QUE OBSERVAVA
Não se sabe em qual momento da infância aquilo começou. Quando todo mundo notou, simplesmente estava lá aquela silhueta: na janela, a observar os garotos da rua que jogavam bola ou brincavam de pique-esconde.
Na escola, durante as aulas, sempre se recusava a dar pareceres ou respostas quando a oportunidade lhe ocorria. Nas aulas práticas ou na educação-fisica , sempre preferiu observar os outros fazerem que pessoalmente "botar a mão na massa".
Veio a juventude, o primeiro emprego e lá estava o menino, já agora moço, acostumado a ser mediano , a entregar sempre o mínimo. Nunca expunha sua opinião ou suas ideias. Afinal, para que gerar conflitos?
Quando a mais linda jovem presente no ônibus olhou para ele, olhou para trás com indignação:
__Será mesmo para mim? Não! Pura imaginação.
Assim, o tempo foi passando. Surgiu uma oportunidade, outra e outra. Perdeu-se uma oportunidade, outra e mais outra. Mesmo com uma capacidade incrível de perceber as intenções e sentimentos das pessoas; mesmo com uma enclausurada vocação para a liderança , habilidades incríveis de reflexão , de raciocínio lógico e criatividade, nosso menino nada fez!
Preferível foi aos seus olhos abster-se de si mesmo, seus sonhos e talentos para não ferir pessoas medíocres, vaidosas e egoístas. Quem diria que o menino que sempre fora motivo de piadas de mau gosto , no fundo era o mais notável diamante de seu círculo social!? Infelizmente, preferiu colocar os outros sempre em primeiro lugar.
Agora, em velhice, lá está aquela silhueta, em meio à penumbra de uma casa solitária, olhando pela janela, observando os garotos brincando, pensando: "quanto tempo eu perdi!"
Autor: Igor Carneiro