Os Paneleiros, o Alto Preço dos Combustíveis e o País dos Bilontras

Quisera eu participar do paraíso prometido pelos paneleiros, a Pasárgada sem corrupção, a Suécia dos trópicos quando o governo Temer, parceiro da iniciativa privada (o endeusado livre mercado), assumiu o poder. Mas por aqui só se vê o aumento da desigualdade. Entre ruas vazias e escolas fechadas, a paralisação dos caminhoneiros, cansados dos altos preços dos combustíveis. Nas universidades, menos jovens humildes ingressam em cursos de graduação mediante o corte nos programas sociais de acesso ao ensino.

O país voltou ao mapa da fome com uma turba de famintos agora impedidos de comerem mediante a diminuição das transferências de renda feitas pelo Estado. No mercado de trabalho, os terceirizados "se rebolam" para manter a vida em péssimas condições laborais e recebendo míseros 4,50 reais a hora trabalhada. Mas além do governo corrupto, privatista e espúrio... Qual grupo social contribuiu para essa calamidade pública?

Se o país vive hoje uma chaga coletiva é porque isso só foi possível a partir da ação de uma parcela da população - a qual foi inerte em agir ou legitimou certas posturas políticas. Nos últimos anos, a partir de uma perspectiva de combate seletivo a corrupção e ódio destilado contra a ascensão social dos mais pobres, se construiu uma mentalidade na classe média que legitimou essa tragédia. Foram os paneleiros com sua visão superficial sobre os reais problemas da nação que pavimentaram a entrada de do atual presidente ao Planalto.

Vamos a um simples exemplo para demonstrar tal postura dos nossos camisas de Cbf. Eu faço parte da classe média (apenas no critério econômico, porque me sinto um outsider no aspecto de ideias), um grupo social muito específico e que tem uma condição socioeconômica melhor do que a maioria dos brasileiros, os quais fazem mágica financeira para sobreviver com 1000 reais mensais. Observe o problema sobre os impostos neste contexto: há um mantra coletivo que paira nesse grupo que o principal problema do país são os altos impostos, que eles são abusivos e etc. É a partir dessa ideia que como manada coletiva, essa mesma classe adere ao discurso do Estado mínimo de cortes em gastos públicos. Aí os governantes utilizam essa retórica em para cortar gastos públicos em áreas fundamentais como saúde e educação - que vão atender prioritariamente os que vivem com um salário vergonhoso, que inclusive foi diminuído por parte de Temer.

Ainda mais, utilizam essa manipulação de informação para vender nossas riquezas nacionais, o petróleo, por exemplo, para multinacionais, que com liberdade podem agora, sem controle estatal, praticarem o preço que quiserem. Já que não estão no seu país de origem e pouco se importam com os dramas locais - a alta nos combustíveis é fruto da remuneração excessiva a acionistas internacionais parasitários. Perceba que o discurso simples como esse legitima e aprofunda os problemas que existiam. Enquanto isso, os ricos não pagam impostos no país e não se discute essa possibilidade.

Diante dessa grave situação, a mesma classe média para se isentar de sua responsabilidade profere um discurso pífio\superficial de que todos os partidos são corruptos. A corrupção no país está generalizada no sistema partidário. Entretanto, entre todas essas agremiações, existem aquelas que foram a favor ou contra acerca das mudanças maléficas como a reforma trabalhista, a diminuição de programas sociais e etc. Durante os últimos anos existiram alguns partidos que lutaram contra a diminuição de direitos do povo brasileiro, mas a cegueira ideológica dos paneleiros impediu de olhar isso com atenção e profundidade.

A classe média chega ao nível da canalhice moralmente falando. Porque quando o SUS for privatizado (já existem sinais disso), ela terá planos de saúde. Quando as escolas públicas retirarem disciplinas básicas da rede pública, ela continuará pagando boas escolas privadas. O resultado é um país alheio aos humildes, os quais serão mais pobres porque não terão acesso aos serviços básicos.

Esse setor social muitas vezes sente prazer em ver a miséria alheia. Ela demonstra isso quando não queria se "misturar" com "gentinha" nos aeroportos, quando não bateu panela ao ver programas sociais como Prouni e Farmácia Popular sendo diminuídos. Afinal de contas ela pode pagar e os pobres que se virem. Ledo engano, ela também está sofrendo as consequências da situação que legitimou. O que vivemos hoje foi uma escolha, uma opinião acertada pelos protestos dos paneleiros. Sendo assim, a classe média escolheu trilhar certos caminhos sobre a crise do país... E mais, ela é coadjuvante/responsável junto ao atual governo pelos problemas que estamos vivendo.

Batam panelas para ver se agora o petróleo, antes símbolo da autossuficiência nacional, volte aos baixos preços estando nas mãos de déspotas do livre mercado. Aliás, até a solução para o problema espelha a visão privatista criada pelos lambe botas da burguesia: o governo golpista representado os interesses dos empresários a todo custo prefere manter o combustível alto do que atender aos clamores das ruas. E a medida estatal para resolver a situação é utilizar a força militar para oprimir os manifestantes. Estejam satisfeitos paneleiros com o Estado de exceção que vocês criaram. Digam adeus aos preços justos e a um país democrático.

27.05.2018

Dennis de Oliveira Santos
Enviado por Dennis de Oliveira Santos em 30/04/2023
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