Segunda-feira
Ela caminhava apressadamente, rosto banhado de suor sob o sol forte de novembro, vestida em um bonito e desconfortável conjuntinho da moda.
Quebrou o salto do sapato, mas continuou andando, mancando deselegantemente, cabeça erguida, sorriso forçado, disfarçando a falta de jeito.
- Maldito estacionamento! - pensou - Sempre o mesmo inferno! - Reclamava para si mesma pelas duas quadras percorridas até o escritório.
- Bom dia! – sorriu para o porteiro que suspirava sempre que ouvia sua voz.
- Bom dia, princesa. O doutor já está lá em cima.
- Alguma correspondência? – mas não esperou resposta, pois o elevador chegou e foi logo entrando.
Nunca havia se acostumado com aquela rotina: trânsito congestionado, roupas elegantes que não a deixavam à vontade, elevadores que demoravam um século, pessoas práticas, sem imaginação.
- Chatos! Falou alto, mas para si mesma.
- Bom dia, “doutor”. Por favor, fecha esta persiana?
- Está louca? Um dia lindo destes e você quer se trancafiar aqui dentro?
Era verdade, quantas e quantas vezes cerrou as cortinas do escritório, permanecendo ali horas a fio, sem saber ao certo se anoitecera, se chovia ou fazia sol.
- É que a liberdade me incomoda enquanto eu tenho que ficar aqui.
- Você não pode fazer um esforço e tentar ser uma pessoa normal? Está agitada. Você, por acaso não anda tomando esses remédios para emagrecer que, hoje em dia, todo mundo toma, está? Se estiver vai ficar uma caveira linda. – ele tinha boas intenções e ela sabia disto, por este motivo não se incomodou com a intromissão do colega. E ignorou, como sempre, seus comentários e conselhos.
- Tem um monte de clientes querendo falar com você.
- E porque você mesmo não resolveu? Será que é tão imprestável assim? Quando eu for embora como vai se virar sem mim?- falou só para implicar.
- Acontece que querem falar com você.
Orgulhava-se da sua popularidade. Há apenas um ano que estava ali, neste tempo passou de recepcionista a uma das principais vendedoras da firma. Uma vitória muito grande, uma conquista inesperada, para quem saiu de um emprego de quase seis anos, derrotada pois não queria sair, humilhada por ter se apaixonado pelo chefe, e ter sido demitida pela mulher dele.
Começou a trabalhar. Vários telefonemas. Vendas. Endossos. Sinistros. Cálculos. Programas de cálculo que congelavam o computador. Notas fiscais que ficavam ilegíveis pelo fax. Outros pedidos de sinal. Comissão cheia. Desconto de 10%. De 15%. De 20% para ganhar da concorrência. Pendências.
Dentro dela havia um conflito. Sentia-se fazendo algo automático. Mas por outro lado, negociar, vender, conquistar a confiança das pessoas, “fidelizar” sua carteira de clientes, a envaidecia.
Talvez gostasse de coisas demais. E 24 horas não eram suficientes para fazer tudo que queria. - Droga de insatisfação! Falou em pensamento.
- Vou almoçar, não volto mais hoje. Tchau. – e saiu deixando o colega sem compreendê-la mais uma vez.