Lei contra fake news e fabricantes de mentira
Rondeia, nas redes sociais e nas altas câmeras federais do país, em competências distintas, um Projeto de Lei para que se disciplinem as redes sociais contra os meios desonestos de publicar notícias e maquinações mefistofélicas, já popularmente o que se chama de fake news. Ditas sociais porque atingem a todos e a quem interessar possa ler e multiplicar seus conteúdos, induzindo outros instrumentos úteis à fabricação da mentira. Lamentável é perceber que pessoas, até certo ponto tidas como inteligentes, porém não sensatas, sejam induzidas a repetir a mentira sem conferir a veracidade da sua afirmação. Milagre, se tal Projeto for bem aprovado, contando com os votos também daqueles que, às vezes, utilizam-se da mentira. Contudo, tornar público que foi contrário à livre divulgação de inverdades, mesmo apenas com seu voto, é uma forma de ser insincero, mas que resulta, demagogicamente, num grande proveito e num modo de autodefesa política.
Em detrimento às vantagens financeiras das empresas da internet e à libertinagem de expressão desse tipo de usuários, a Lei pretende instituir, a ambos, responsabilidade civil e transparência da autoria, proibindo tais atos danosos, geralmente apócrifos. Certamente, diminuirá a propagação de acusações e de notícias falsas, até agora somente combatidas pelo nome de fake news, mas com a consentida indiferença dos provedores de internet e donos das redes sociais, o famoso laissez-faire. É preciso que se dê um basta e se processem os que usam as plataformas a serviço da calúnia ou os que se demonstram fabricantes da mentira.
Essa providência vem muito tardiamente, porque, já por volta de 540 a 470 antes de Cristo, o filósofo Heráclito de Éfeso (hoje Turquia), genialmente, abordou esse assunto: “O homem de alta reputação sabe e conserva o que se deve acreditar. Quanto aos fabricantes e testemunhas de mentiras, a Justiça os saberá apanhar”... Para se compreender essas atualíssimas palavras, conheça-se o atual consequente inferno moral, criado pelas fake news e estude-se o que já preocupava os sofistas, Sócrates, Platão, quando os gregos primordiais abordavam temas, sobretudo acerca da polis, indizíveis. Enfim, como afirmei em crônica anterior, contra a mentira se consagrem a realidade, o tempo e a Justiça.
Quanto à realidade, ela é aquilo que é dado pelas nossas ações pretéritas e presentes; ou o que pressentimos, nas nossas capacidades, potencialmente realizar. Todavia, a realidade, sob os mais diversos aspectos, demonstra-se confusa. Bem diz Pedro Nava, em Balão Cativo, IV: “Os fatos da realidade são como pedra, tijolo – argamassados, virados parede, casa, pelo saibro, pela cal, pelo reboco da verossimilhança – manipulados pela imaginação criadora”.
Nada melhor do que o tempo para desmascarar a mentira, pois ela perde sua aparente consistência com o paulatino aparecimento das contradições, ostensivas pelos fatos. Contudo, não devemos aguardar, pacientemente, o devido tempo ou quem sabe as “calendas gregas”.
Finalmente, quanto antes, havendo a Lei, aja a Justiça e que isso, oxalá, não venha ser tarde demais. Já em demasia, nossas redes sociais, e há muito tempo, infestam-se de mentiras, preservam seus mentirosos, atrapalhando o bem social, estragando nossos encantos no mundo do trabalho e a nossa poesia da vida. Quando digo o que é nosso, falo de quem deseja um viver feliz.