Por Que Retornar Para o Brasil?

Há pouco mais de um ano estava no aeroporto de Quito, no qual recebi a notícia de que se criaram no Brasil novas fragilidades: vozes de movimentos sociais foram arbitrariamente presas, filhos gays eram trucidados pelos pais e direitos sociais eram retirados por parte dos governantes. Diante de toda essa lástima social me questionava: estou tão satisfeito nos Andes, por que retornar ao cancro social produzido pelos coxinhas? Por que não tentar uma nova vida profissional por aqui?

Adiante, numa conexão de voo no Panamá, me deparei com brasileiros voltando de Nova York, turistas em um papagaiar retórico que davam "salvas de salivas" para a política do big stick que trucida "porcos latinos" nos States por parte de Trump. Na fila para o embarque, o espírito macunaímico, o jeitinho brasileiro se revelava num garoto que furava fila.

Mais uma vez tecia uma autocrítica: eu não mereço essa Babilônia do salve-se quem puder, vou ficar com o indígena povo equatoriano. Enoja-me esse complexo de vira lata da classe média que "foge" de seu lar, de seu país, de seu território para buscar contentamento num doido consumismo típico da terra das insanas fantasias.

Não temos democracia concreta, não há espaço para línguas reclamarem, nem bocas para gritar. Por que retornar se todo o passado de luta e direitos são agora meros discursos inúteis de juristas que deram suporte ao golpe travestido de processo legal? Por que retornar para esse caminho de percas?

Passados alguns meses daquela época para cá fico a todo instante me questionando porque resolvi retornar. Observando a indignação tardia de caminhoneiros contra o alto preço do combustível, os mesmos que tempos atrás fizeram manifestação de apoio ao golpe, só reforça o espírito de manada política manipulável que se configura no país.

Vendo todos os dias às indignações seletivas contra a corrupção, a classe média paneleira, a qual perdeu o seu poder financeiro e hoje não consegue mais fazer compras em Nova York - intensifica minha vontade de ir para o Uruguai ou Equador. Pois por aqui só se escrevem novos capítulos de nossa tragédia social e aumento da desigualdade. Entre risos, injustiças, festejos e corrupções desse país que se diz varonil, vou ficando (de forma indignada) por aqui, mas pelo menos acreditando está do lado certo da história.

21.05.2018

Dennis de Oliveira Santos
Enviado por Dennis de Oliveira Santos em 26/04/2023
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