Café Regina
Pequeno cruzamento, rua de paralelepípedo. Campinas, Centro. O encontro aconteceria no Café Regina. Um antigo namorado a quem pedi um favor. Tamanho tinha sido o estrago do término, há uns oito anos, que qualquer pedido era atendido prontamente como que para reparar os danos do doloroso fim. Cheguei primeiro. Pedi capuccino e croissant. Ele chegou 20 minutos atrasado, nada pediu. Parou o carro do outro lado da rua, desceu. Acompanhei todo o movimento, pois estava sentada de frente para a porta. Ao atravessar, logo reparei que não era mais aquele. Estava mais gordo, mais sério, menos íntimo. Hora atrás contava para a colega do trabalho sobre o tal encontro “sim, foi meu grande amor”, no que a colega respondeu “você viu que até grandes amores se acabam?”. Ela tinha razão. Nosso vínculo parecia infinito, nosso carinho e companheirismo eram o que havia de mais precioso naquele tempo para mim. Agora estou diante desse homem a quem vim pedir um favor aproveitando-me do cargo que ocupa. Como pude investir tanto sofrimento por um estranho? Alguém que o tempo arrastaria para longe da minha vida. Seus olhos e sua cabeça concordavam com tudo o que eu falava, estava ansioso para terminar logo o encontro. Fiquei sem graça em alguns momentos, mas não deixei de sorrir e contar as coisas boas da minha vida, com muita descontração e entusiasmo. Não sei se fingi bem. A questão é que também não estava confortável com sua presença, mas o encontro era necessário para entregar-lhe uns papéis. O fim aconteceu do nada e desajeitado: preciso ir, tenho uma reunião. Pensei que me ofereceria uma carona, mas se foi tão friamente como quando chegou. Demos um beijo no rosto e um abraço. Para não sair sem dizer nada, falou que tinha sido bom me rever. Desejei bom ano e boa semana, mas queria dizer “até nunca mais, boa sorte”.