TEMPO DE FUGAS
Tudo em mim é vontade de fuga. O que desejo está distante do mundo habitado pelos homens. Estou sem paciência para crachás e documentos de identificação. Não quero ser identificado. Não quero assinar recibos. Não quero passar panos.
Todos os ritos que um homem civilizado precisa cumprir para ser aceito eu desprezo no momento. Não quero ser famoso no Instagram. Não quero ser influenciado. Não quero ser influenciador. Nada há na minha vida para ser espetáculo. Não sou produto a ser consumido.
Sinto inveja dos ermitões. Dos homens que habitam ilhas desertas, coração das florestas ou cavernas. Que romperam o pacto com a sociedade. Que escolheram viver sem sócios, sem o banquete das confrarias. Sinto inveja dos homens que não têm conta em redes sociais. Que não podem ser encontrados na agenda de nenhum celular.
O mundo como é, com todas as suas camadas, não se faz sedução para um homem como eu. Não estou interessado em pagar dízimos, impostos, pedágios e jabás. Não quero ter um milhão de amigos. Nem de inimigos.
Sinto inveja dos que renunciam, dos que desprezam a confraria dos notáveis e dela se afastam velozmente. Sou feito de pouca substância. Toda ela, no entanto, é algum tipo de luz. Aquele tipo de luz que não atrai enxame de insetos. Sou filho daquela luz que resiste à mais voraz das formas de escuridão. E assim sigo, assim resisto. E assim escapo mais uma vez.