Cheiro de cachoeira
Como é bom quando um cheiro que vem dos horizontes perdidos e nos arrebata para algum momento da infância. Um sabonete que já não encontra mais nos mercados convencionais, O cheiro do chá fervendo do capim limão alguns chamam de capim santo, o cheiro da chuva depois de uns bons dias secos com muito sol, aquele feijão feito a lenha numa panela de barro que fumaçava toda a cozinha e deixava o telhado todo preto, o cheiro fresco da colônia de alfazema que muito eu sentia aos domingos na igreja, o cheiro de fogueira apagada logo cedinho no mês de são João e aquele friozinho de inverno, ah! Também o cheiro da volúpia do primeiro beijo porque o beijo tem cheiro. Vou pausar por aqui, são tantos cheiros e fragrâncias que a vida vai construindo.
Tenho a sensação de que as memórias do cheiro trazem mais emoções que uma fotografia. Talvez minha explicação não seja nenhum pouquinho lógica, mas as fotos estão ali e a gente logo lembra daquele dia e não tem muito o que escapar, contudo o cheiro a gente nunca sabe para onde vai nos levar, quais emoções vamos sentir, em que ano estaremos no momento seguinte.
Adoro as metáforas onde a natureza nos complementa. Um dia me perguntaram que cheiro tem uma cachoeira e eu responde rapidamente “tem cheiro de água” logo me soou estranho a minha própria resposta porque água em tese não tem cheiro e confesso que de maneira afoita atropelei as palavras e responde a altura de um menino entusiasmado que não sabe guardar os desejos na boca responderia.
Mas hoje eu diria que a cachoeira tem cheiro de liberdade, de alegria, de vida, queda d’ água que lapida as pedras, banho gelado que revigora, cheiro de renovação e encontros de águas e pessoas, o belo e o selvagem no mesmo lugar.