RODOLFO SORTUDO

Rodolfo falava coisas que iriam acontecer, e aconteciam. Devia ter uns 2 anos quando fez um comentário pra mãe sobre muito fogo. No dia seguinte, incêndio na casa. Pouco tempo depois, rindo, disse algo sobre a perna do avô. Tiro e queda: escorregou no tapetinho do banheiro e fraturou o fêmur. Quando falou da promoção do tio no supermercado em que trabalhava 27 anos na mesma função, não deram muita bola até ele ligar dizendo que era o novo diretor. Na escola não precisava estudar demais para as provas: na noite anterior sonhava com as questões que iriam cair, só dava uma rápida repassada naqueles assuntos e tirava 10 sempre. O pai já quis tirar proveito daquilo, pedindo inicialmente dicas para o jogo do bicho. Começou a ganhar tanto que o bicheiro mandou um capanga "pedir" que parasse de apostar, senão... Foi trabalhar como vendedor e só ligava para os clientes que queriam vender. Era espantoso. Enquanto seus colegas tinham que fazer uma infinidade de ligações até gerar um interessado, ele fazia venda atrás de venda sem grandes esforços. Ficou conhecido como Rodolfo Sortudo. Quando saía de carro, chegava nos destinos muito rápido, pois sabia os caminhos que não tinham trânsito. Isso bem antes do Waze. Era um terror no Poker e dominó, tanto que ninguém mais queria jogar com ele, pois ganhava todas. Essa capacidade inata de premonição naturalmente gerava inveja e produzia inimigos. Alguns desses desafetos se reuniram secretamente com a intenção de acabar com ele. Não aguentavam mais lidar com tanta sorte num cara só. Ele soube dessa armação e avisou a polícia que desbaratou o plano invadindo o local em que estavam. Passaram a ter medo dele. Tinha mesmo parte com o demônio, diziam. Até quando comentou com a esposa que seria levado por ETs no dia seguinte. Ela, já acostumada com a veracidade das suas previsões, surtou, se trancou no quarto e ficou lá chorando por horas. No outro dia sumiu e ninguém mais soube do Rodolfo Sortudo. Mal sabiam que tinha se apaixonado pelo Pedrão Borracheiro e fugiu com ele para o interior de Sergipe e lá viveram felizes para sempre. Nunca mais previu coisa nenhuma.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 22/04/2023
Reeditado em 23/04/2023
Código do texto: T7769852
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