A NOIVA
Ronaldo José de Almeida
Clarismundo constantemente ia à escola usando a calcinha de sua irmã. No recreio, longe dos olhares dos professores, desfilava zombeteiramente imitando as garotas modelos, sob os aplausos dos colegas.
O garoto era muito alegre e admirado pelos colegas e professores. Mostrava-se um excelente aluno, classificando-se entre os primeiros da sala.
O tempo passou e o garoto tornou-se um belo rapaz, indo trabalhar no Departamento Nacional de Obras Contra a Seca - DNOCS, o que lhe concedeu prestígio entre as moças, passando a ser considerado um bom partido.
Dulcinéia, a irmã de Clarismundo, ingressou no coral da Matriz, destacando-se pela sua linda voz, sendo reiteradas vezes contratada para cantar em casamentos.
Aos vinte anos, Dulcinéia ficou noiva de um tenente do exército, lotado na capital do estado, com o casamento marcado para o mês de maio.
Na véspera das núpcias da irmã, Clarismundo escutou a campainha da porta tocar. Era o vestido de noiva que o estilista tinha mandado entregar. O rapaz recebeu a caixa com o vestido e a levou para o seu quarto, sem que ninguém percebesse e sem nada falar para a sua irmã.
Na manhã seguinte, dia do matrimônio, havia uma enorme correria pela casa. Manicure, maquiadores, parentes, enfim o tumulto era geral.
O casamento estava marcado para as 18 horas. Ás 16 horas, como ainda não tinha recebido o vestido, a noiva já nervosa, ligou para o estilista cobrando. Obteve como resposta que a roupa havia sido entregue na véspera, tendo sido recebida pelo seu irmão.
A noiva e sua mãe bateram na porta do quarto do rapaz, que não atendeu. Depois de muito chamar e sem receber resposta, mãe e filha decidiram arrombar a porta. Depararam-se então com Clarismundo morto, deitado na cama e vestido de noiva, corretamente maquiado e com o buquê nas mãos.
Nos lábios um sorriso de satisfação e glória.