Adormeço
No meu quintal haviam manjares frutíferos de todo sabor.
Haviam flores, cheiro de mato, de folhas caídas na poça dàgua: morada das formigas.
No céu todas as formas do universo, e o vento ( que era meu amigo) bailava o balanço de onde derramava a chuva lilás que pintava o chão.
Era eu rainha-nua de roupa nova, trapezista dos velhos galhos da goiabeira.
Era espiã dos limites do quintal vizinho, onde arriscava-me nas fronteiras guardadas pelo monstro-cão.Um dia este me tirou um pedaço da carne, mistura de sangue e saliva nos tornaram irmãos.
O monstro guardava a velha feiticeira, senhora das gestações.
Tomei posse da minha terra, construí castelos com as mesmas pedras que machucavam meus pés, descobri tesouros escondidos.
Ao entardecer, exausta das batalhas era embalada pela doce cantiga das cigarras, sinfonia ao pôr do sol.
Adormeço então e sonho ainda como a criança que adormece.