PORTÕES DE FERRO
PORTÕES DE FERRO
Portões de ferro guardam a entrada da grande propriedade que parece abandonada.
Uma placa de vende-se orna o desleixo e uma concertina ouriço coroa o portão.
Ao fundo, uma casa aparentemente bem construída destoa da visão da entrada.
Todavia, o que chama a atenção são três curiosidades:
- ao lado direito do portão, uma bananeira sem bananas, pelo fato de não ter aquela estrutura arroxeada chamada coração de bananeira, erguida sabe-se lá como, parece indicar ausência de vida.
- do lado esquerdo um cacto, daquele tipo que se via nos antigos filmes de faroeste. Talvez plantado para simbolizar resistência a perigos e ameaças que tanto rondam as vidas e propriedades nesta terra de muitos ninguéns, e poucos alguéns que a dominam.
- ao centro, no meio de tanta ruína dá as caras uma roseira. Cinco flores rosas que se destacam num plano mais elevado, enfeitam a concertina ouriço, talvez mostrando que nem tudo está perdido e que a beleza supera em muito a feiura que a cerca. Estão belas como o quê, embora sem cuidados.
Uma única coisa vem à cabeça. Quando a propriedade fôr vendida, cairão por terra indistintamente a feiura e a beleza, quem sabe dando lugar a um majestoso e pasteurizado condomínio, com seus gramados e palmeiras artificiais, nome pomposo, provavelmente em francês, “ Porte de Palmier “, ou inglês, “ Gate of Palms “, enquanto corações dão bananas à terra, cactos deixam de ser sinônimos de proteção e resiliência e rosas não mais exalam seus perfumes, aqueles que roubam de nós.