Este ano faço 60 anos. Confesso que já foi difícil admitir que estou definitivamente mais perto da terceira idade. Lembro quando alguns anos atrás me chamaram de senhor pela primeira vez: foi um choque. Dizem que a idade é apenas um número. Não é. Sinto-me bem, mas a idade nos impõe limitações que temos de aprender a conviver. Fazer 60 anos não me deixou em crise, mas está me levando a refletir sobre o futuro. Ok, não sei se terei um futuro, mas são reflexões que não consigo afastar da minha cabeça. Ainda não sei que tipo de velhinho quero ser, mas sei qual o tipo de velhinho não quero ser.
Eu não tenho medo da morte. Tenho medo de ficar dependente, de apenas vegetar. Eu tenho pavor de ficar improdutivo. Sei que não tenho controle nenhum sobre isso, mas o medo se sobrepõe a consciência da falta de controle que tenho sobre o futuro. Chegar a velhice nos leva ao olimpo da maturidade, mas ao mesmo tempo ao mais alto patamar do egoísmo. Não aquele egoísmo mediocre onde não pensamos no próximo, mas aquele onde aprendemos a dizer não, onde não nos importamos com o que pensam ou falam ao nosso respeito e aquele onde aprendemos a nos valorizar, melhorando a nossa qualidade de vida. Isso é fundamental para envelhecermos bem.
O velhinho que eu não quero ser? Não quero ser aquele velhinho invisível, jogado em um quarto, esquecido, calado e sem ninguém para conversar. Não quero ser um velhinho sem planos. Respeitando as minhas limitações, quero ser um velhinho cheio de planos e viver para me sentir vivo. O processo para me tornar esse velhinho está sendo árduo e muito difícil. Estou reformulando praticamente toda a minha vida e posso garantir: mudar velhos hábitos é muito complicado. Estou aprendendo a perdoar e me perdoar, conviver com o que não posso mudar ou mesmo controlar, a me alimentar corretamente, fazer exercicios não por estética, mas por necessidade e a dizer em alto e bom som que chegar aos 60 me torna um vitorioso, um sobrevivente. Seguindo o conselho do meu querido Chico Xavier: se não posso voltar no tempo e fazer um novo começo, posso recomeçar agora e fazer um novo fim.
Que eu seja perdoado pelos meus pecados e absolvido por ter vivido intensamente uma vida libertária e politicamente incorreta.