Querendo chutar “Pau da barraca”
Mais um dia! Estava de saco cheio de tudo: dos filhos, do marido, dos amigos…. Andava mesmo sem paciência para ninguém. As conversas lhe pareciam todas inúteis. Estava de saco cheio das coisas também: cozinhar, lavar roupa, cortar as unhas, tudo lhe custava. Até a aula de Pilates, que sempre adorara, estava aborrecida.
Tempo carrancudo, parece que vai chover. Olhando pelo vitror da sala o silêncio ecoava na sua cabeça cada vês mais alto. Pensa: E se começar tudo de novo? Que preguiça. Melhor continuar o que já havia construído. Não sentia forças para incendiar tudo. Na verdade, não queria escafeder-se, só parar um pouco mesmo. Para o mundo que eu quero descer. Para a procissão que a santa quer mijar.
Lembrou que havia um nome para isso: férias. Sim, era isso, precisava de férias. Ufa, não era um burn out, nem mesmo uma depressão, só a necessidade de uns diazinhos à toa mesmo. O problema é que, desde que virara mãe, férias nunca mais foram férias. Pelo contrário, todos os anos respirava aliviada quando enfim voltavam as aulas.
Pensou em suas amigas. Uma, mãe e artista, abria uma garrafa de vinho todas as tardes para conseguir chegar ao fim do dia, como dissera. Outra, mãe e advogada, botava os filhos na cama e acendia um baseado, sem o qual confessou não conseguir dormir. Ainda outra, mãe e empresária, tomava antidepressivos e comentou que não conhecia ninguém que não ingerisse um remedinho ou outro para manter a moral.
Seria esta a normalidade? Ela não bebia sozinha, não fumava com frequência e nunca tomara soníferos, ansiolíticos ou antidepressivos. Talvez fosse este seu erro. Ao mesmo tempo, detestava a ideia de depender de uma substância, tinha medo de se lançar em algo que não conseguiria controlar. Não sabia o que fazer; sabia apenas que do jeito que estava não estava bom. Preciso encontrar uma solução logo, ou a próxima testemunha de Jeová que me parar na rua acaba me convertendo. Riu alto da própria piada, passou um batom na boca e foi buscar os filhos na escola.