As memórias e o tatu-bolinha
De vez em quando, memórias antigas me pegam desprevenido, me assaltam e me distraem. Aconteceram de fato ou é apenas fruto da minha imaginação? Decorrem de uma tendência à idealização do passado? A maior parte das pessoas que poderia me ajudar na resolução dessas dúvidas já não está mais por aqui. Resta me esforçar para juntar os pedaços e melhorar o processo de recordação.
O fato é que recordar, como ação consciente, ajuda a entender o mundo em que vivi e no qual continuo vivendo. Enquanto tiver a capacidade de me lembrar, devo seguir produzindo memórias, mesmo sabendo que há uma seletividade no procedimento, isto é, nós escolhemos as nossas memórias. Vida longa aos meus neurônios! Muitas conexões pela frente nos aguardam. Ou seja, memórias têm seu valor e nos ajudam a construir o entendimento do nosso papel nos diversos contextos em que atuamos. Arrisco dizer que elas são parte integrante da nossa personalidade e elemento indispensável no nosso relacionamento com os outros.
Uma questão essencial é o armazenamento das memórias. Onde guardá-las? Numa caixinha de madeira? Numa gaveta? Num pen drive? Num container? As possibilidades são infinitas, mas sugiro que, se você tiver interesse, anote, converse com seus amigos e amigas, compartilhe suas lembranças, tente criar novas memórias e cuide das antigas. E nunca se esqueça do bem que te faz uma boa noite de sono. Os estudiosos dizem que isso é imprescindível.
Estímulos diversos também são necessários. Comece o quanto antes, pois doenças, má alimentação, estresse, depressão, transtornos afetivos, demência, álcool e outras drogas podem comprometer o processo de memorização, e você não quer isso, não é? Quer saber? Ler, viajar, ouvir música, caminhar, frequentar museus, parques, cinemas, teatros, bons encontros… Está esperando o quê?
Nunca sei quando as memórias vão e vêm. Sim, elas surgem e vão embora sem que eu consiga controlar seu curso. Se não anoto, corro o risco de esquecer. Qualquer detalhe me ajuda. Outro dia, nessa época de muita chuva, me lembrei de uns tatus-bolinhas, que alguns talvez conheçam por tatuzinhos-de-jardim. Eles vivem nos jardins e se alimentam de matéria orgânica, são parceiros das minhocas. O problema são os insensatos que adoram jogar veneno em tudo. O resultado é péssimo: poluição ambiental, contaminação.
E os tatus-bolinhas, onde entram na história? Ah, sim! Eu costumava passear com meu avô — atividade sempre prazerosa — e um dia ele se distraiu conversando com um conhecido e eu fui investigar a vida existente num jardim próximo. Os tais bichinhos, com seu jeito típico, me encantaram. Meu avô mantinha um olho na conversa e outro no que eu estava fazendo. Ele era mestre nessas artes de dividir olhares. Se existe algo que me faz recordar dos nossos passeios são os tatus-bolinhas. Associações como essas nos ajudam a melhorar o processo de memorização e a reconhecer a importância da diversidade da vida. Vamos nessa?