A VIAGEM DOS MENINOS DE PEDRAS

[Castro Rosas]

Pedras é um arraial de poucos habitantes, lugar onde a vida passa repetindo o mesmo roteiro: de manhã a garotada vai para escola, à tarde banho de rio e à noite termina contando histórias.

Os irmãos Geraldo, José, Pedro e Francisco combinaram fazer uma viagem em busca de seus sonhos almejados, uma vida com graduação em ensino superior e prosperidade.

O plano ficou para o final do ano, quando já teriam concluído o colegial, até mesmo por conta do ginasial, que para entrar era preciso fazer o tão temido o teste de admissão.

No dia da partida José reuniu os irmãos para dizer, vão vocês, eu vou ficar para ajudar pai e mãe.

A mãe e o pai que já se encontravam na entrada da casa para despedida dos filhos ouviram o que disse José.

Depois de abraçar e desejar aos três filhos a sorte de uma vida melhor, a mãe sentou na varanda com José.

– José, ouvi o que disse aos seus irmãos. Entendo, meu filho, que queira ficar, seus irmãos partiram para seguir seu próprio destino. A cada um deles desejei que encontrasse o amanhã da sua própria história. É preciso que você encontre o seu objetivo para celebrar o encontro. Você, quando saiu do meu ventre, o sopro da vida lhe fez chorar, acalmei seu choro com o manjar dos meus seios fartos, assim também aconteceu com seus irmãos. A vida tem seu próprio curso, aqui será sempre o porto seguro. Vocês cresceram correndo ao redor da casa, agora é hora de correr ao redor do mundo.

A mãe se levantou, apanhou a mala de José entregando-lhe nas mãos e com cinco palavras dele se despediu: “Vai que ainda dá tempo’’.

De longe uma voz ecoou: “Me espera que eu vou também”. Os três irmãos já iam bem distantes.

Pedro parou e acrescentou: “Vocês ouviram uma voz?” Francisco respondeu: “Foi só um assobio do vento”.

E de novo a voz ecoou: “Me espera, já estou chegando!”

Geraldo, que tinha dúvida, disse: “Agora eu ouvi, essa voz é do José. Pedro repetiu: “Ele disse que não vinha”.

Francisco respondeu: “Quem sabe resolveu. A que distância vocês calculam que ele se encontra? Esperar pode ser que não cheguemos a tempo de embarcar, nessa hora cada minuto de atraso conta, e é o suficiente para ficarmos olhando o trem se distanciando da estação. O melhor seria mandar que ele se apressasse, já que não sabemos a que distância se encontra”.

Pedro interpelou: “Ouvimos ele porque o vento sopra a nosso favor, ele se encontra contra o vento, assim seria impossível nos ouvir. Quanto tempo ainda nos falta antes da partida do trem?

Pedro olhou o relógio: “Só mais cinco minutos. Em todos estes anos, nunca ouvi alguém dizer que ele tenha se atrasado, sua pontualidade é uma marca a ser registrada no Guinness, mas qual é mesmo o tempo que falta até que possamos chegar antes da partida?”

Pedro voltou a olhar o relógio: “Agora já se passaram trinta segundos, o que corresponde a quatro minutos e trinta segundos. Gente, vamos adiantar mais o passo precisamos chegar com uma antecedência de uns minutos, é tempo suficiente para aguardamos a chegada de José se é que ele vai chegar a tempo”.

O trem parado na estação já recebia alguns passageiros, à medida que ia chegando a hora de embarcar, os primeiros a chegar escolhiam a melhor acomodação. Geraldo, Pedro e Francisco não tiravam os olhos da estrada por onde deveria José chegar a tempo de embarcar. Esperaram até o último minuto.

O apito do guarda da estação sinalizou para que o trem entrasse em movimento, a espera por José parecia ter chegado ao fim.

– Olha ali, Pedro! É o José.

Geraldo da janela grita: “Por que demorou tanto?

José, já sem fôlego e sem esperança, acenava aos irmãos em sinal de despedida, desolado por não poder seguir viagem nos trilhos. Um solavanco, e o trem para de funcionar.

A voz do maquinista ecoar para o atendente da plataforma.

– Avise aos senhores passageiros que, devido a uma pane em nossa máquina, vamos levar alguns minutos para o reparo.

Acenando com as duas mãos, Francisco começa a gesticular para José, que imediatamente é acompanhado por Pedro e Geraldo.

Sem entender o verdadeiro motivo dos acenos, José agacha para pegar sua mala e fazer o caminho de volta, erguendo a cabeça José estampa um sorriso de olhos lagrimejados ao notar que a locomotiva tinha parado de funcionar.

Seguiram viagem nos trilhos, os quatros meninos. Pedro e Geraldo, depois de formados, seguiram carreira na perfuração de poços de petróleo. Francisco, que passava os dias sonhando em ser aviador, assumiu um cargo na expedição aeroviário. José, que passava horas lendo grandes poetas, hoje é poeta.

Castro Rosas
Enviado por Castro Rosas em 14/04/2023
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