Juca Pontes e sua Presença Literária
Ao longo de quarenta anos, acumulei muita gratidão ao amigo Juca Pontes, desde seus 25 anos, jovem, competente e empreendedor. Tudo girava em torno da ideia de escrever e de editar. Ele próprio sempre a dar ideias, bastava uma para se fazer um livro inteiro. Boa obra, se fosse ele o editor, talvez o ilustrador, quem sabe o prefaciador, ou quiçá coautor, com sua sensibilidade de poeta. Mas existia nele uma pessoa modesta, bondosa e, sobretudo, não gananciosa. Daí, ter sido realizador de tante belle cose. Contudo, aproveitavam da sua generosidade usurpadores para tomar suas ideias. O mundo está cheio disso. Juca, diante dessas ingratas apropriações, sorria e cedia seu honesto lugar para que não ocorresse disputa.
O fato histórico, que não deve ser esquecido, é haver Juca idealizado, em 1983, a proposta para crescer a política de editoração da então Secretaria de Educação e Cultura. Seu insistente intuito foi criar um periódico exclusivo para a literatura, separado da existente Educação e Cultura. E divulgá-lo até aos países lusófonos, espalhando-se em Portugal, Angola, Guiné-Bissau e Moçambique. Era eu Chefe de Gabinete da SEC e, de pronto, atendi seu desejo, com a anuência do secretário, Professor José Jackson, e do entusiasmado Raimundo Nonato, então titular da Subsecretaria de Cultura. Registre-se para a história que nasceu, do ventre de Juca, a primeira revista literária na Paraíba, talvez também no Nordeste. Tal fenomenal revista se registra nas duas edições de Paraíba, imprensa e vida, de Fátima Araújo, livro premiado no Concurso do IV Centenário. Mas, não narra o episódio determinante à paralisação da série trimestral da Presença Literária.
Ainda respirando-se os ares de repressão às liberdades políticas e democráticas, a ESG visitou a Paraíba. E foram distribuídos aos seus membros, no auditório do Hotel Tambaú, exemplares da revista. No Governo Wilson Braga, o discurso de José Carlos da Silva Junior, Governador em Exercício, foi de elogios aos atrativos valores turísticos do Estado, quando, fora do contexto, insurgiu, em incompreensível exibida disparidade, um estranho, esguio e enxundiado, ao tachar as páginas da revista, que lhe fora doada, de “cheiro subversivo” e com “palavras chulas sobre a Lagoa da cidade”... Sugeriu também o recolhimento daquela edição e a formalização de censura à sua editoração. Esperando-se a “rebordosa”, nada disso se providenciou, tampouco o recolhimento, tampouco a censura solicitada.
Aconteceram os aplausos da comunidade cultural à revista e também manifestações de apoio. Dentre essas, a da artista plástica Marlene Almeida, que me telefonou, sugerindo um movimento contra tão esdrúxula afirmação, para que a revista continuasse, como de origem, aberta à liberdade de expressão e comprometida com as causas da igualdade social. Enfim, o corrido já não era mais enquanto Jackson secretário, iniciava-se a gestão do Professor José Loureiro, e nenhum recolhimento, nenhuma censura, mas tal fato crítico mudou a direção da revista ao escritor Valdemar Duarte, que diante desses impasses, justificava não haver condições à continuidade de tão significativa obra de Juca. Verificam-se seu nome, o meu e o de Raimundo Nonato, na resenha dos exemplares que estão na Biblioteca da Academia Paraibana de Letras, à disposição de eventuais consultas ou pesquisas.
É a Juca Pontes a quem muito se devem homenagens pelos suas publicações, seus feitos, no mundo da cultura. E um deles, sem qualquer dúvida, é a revista Presença Literária. Diria ele: Bacana, é verdade! Analisando esse frívolo obstáculo, a Presença Literária continuou viva, prestes ao seu soerguimento e ao seu retorno em homenagem para o seu idealizador Juca Pontes. Porém, desse antidemocrático incidente, conscientizemo-nos de que a falta de liberdade não tolera o desejo de igualdade social, sobretudo porque seus adeptos pensam que suas privilegiadas qualidades de vida diminuirão com o viver bem de todos...