O nosso corpo pode ser pertença de quem abusos tece
Quanto medo.
Não entendia o comportamento daqueles monstros que conviviam à minha volta. Eu era simplesmente uma criança, mas, mesmo assim, aqueles seres me atormentavam.
Fui perseguido, obrigado a fazer coisas que nem mesmo eu sabia o que eram. Mas, dentro de mim, sentia que era algo errado e que não deveria ser feito. Mas aqueles monstros me obrigavam, me ameaçavam. E eu era obrigado a fazer.
Eu me sentia culpado. Tinha medo e vergonha, também. Mas me sentia obrigado.
Dentro de mim um desalinho, pois sabia que algo errado estava acontecendo, mas, ao mesmo tempo, tinha medo de contar e omitia pra mim mesmo aquela cena terrível.
Não fui “violentado”, graça a Deus, mas foram inúmeras as vezes que me deparei com pessoas ditas honestas e humanas, que olharam pra mim, uma simples criança, e diziam, olhando para o seu membro genital: “Eu deixo você pegar”.
Não foi uma só pessoa; foram algumas pessoas em momentos diferentes da minha vida. Eu me sentia mal, me considerando culpado, um verdadeiro lixo.
Nada aconteceu no meu corpo físico, mas na alma ficaram as marcas de uma experiência que nunca será esquecida.
Fui utilizado como parte da fantasia sexual de indivíduos que se diziam humanos, mas que, na verdade, não passavam de seres irracionais, monstros da pior espécie.
Acreditava que tudo acontecera comigo porque tinha que acontecer; mas viver tal experiência é um estigma que fica registrado na alma.
No decorrer da vida, encarei essa cruel realidade e sobrevivi e, hoje, busco defender pessoas que, como eu, foram traumatizadas por monstros que não respeitam ninguém.
Diga não à pedofilia.
Pois podemos ver ainda na atualidade a coisa acontecer em todos os lugares e de variadas formas, mas com um único ser, os mais especiais, puros e frágeis também: as nossas crianças que são usadas e humilhadas por monstros em forma de seres humanos.
A cada esquina um olhar enigmático, mas louco!
A cada passo um medo e, na garganta, um sufoco.
A cada momento nada se pensa sobre o que aconteceu, o nosso corpo pode ser pertença de quem abusos tece. Mas tudo silencia e nada nos descansa quando surge um novo dia e alguém se apropria da doçura da alma de uma criança.
Por isso respeite as crianças. Seja humano e se coloque no lugar delas, assim você verá, ou melhor, sentirá na pele o medo, o desalinho da alma.
> “Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) - O Disque 100, o app Direitos Humanos e o site da ONDH são gratuitos e funcionam 24 horas por dia, inclusive em feriados e nos fins de semana”.