Previsão do tempo

Nas reuniões festivas, o assunto preferido da família, além da política e das fofocas, era a questão climática, o aquecimento global. Nenhum deles era especialista nem tinha formação na área, mas acompanhavam com atenção notícias dispersas nos jornais. As opiniões se dividiam: sim, não, mais ou menos, conforme as informações e os vídeos que circulavam nas redes sociais. Tinha de tudo, de notícias falsas a entrevistas com estudiosos e ativistas. Difícil era chegar a um consenso e adotar atitudes sustentáveis.

Para o ano, a previsão do tempo era de chuvas esporádicas, tempo abafado e muito calor. Veio daí a decisão de comprar a piscininha, uma piscina portátil, para a meninada. Era só montar, encher d’água e estava pronta para usar. Piscina pequena, com capacidade de mil e poucos litros. Material resistente, perfeita para toda a família, dizia o folheto da propaganda.

Foi uma festa quando o correio trouxe a encomenda. Chegou na terça-feira, pacote grande, bem-embalado. Tinha válvula para retirar a água após o uso, tão fácil montar quanto desmontar. Despertou a curiosidade: vai funcionar? Qual é o tamanho? Vai demorar a encher? Iriam testar no domingo. Diversão garantida! Durante a semana, escolheram o local onde instalar e planejaram como encher usando a mangueira do jardim. De fácil montagem, até as crianças conseguem, era o que dizia o manual de instruções.

A expectativa, e o calor, era contagiante. Todos de olho na previsão do tempo. O calor vai continuar? Vai chover? Vai esfriar? Será que alguma coisa vai dar errado? Expectativa tão grande que não era difícil que ocorresse algum problema, como uma tempestade no quintal, uma nevasca ou a probabilidade de um evento catastrófico que os impedisse de desfrutar a piscininha. Pura ansiedade!

No domingo, as crianças acordaram cedo, tomaram café e já queriam pular na piscina. Pular? Não dava, tinha cinquenta centímetros de fundura. Proibido pular! Resolveram fazer uma competição de natação. Não era possível, a piscininha tinha dois metros de comprimento, o suficiente para quatro braçadas. Mesmo assim, todo mundo entrou, adultos e crianças. Brincaram, se divertiram, jogaram água uns nos outros, mergulharam, se refrescaram. Considere-se mergulho o ato de cobrir a cabeça com água, porque mergulhar mesmo… Depois saíram para almoçar. Voltaram à tarde e ficaram até escurecer.

Segunda-feira, terça, quarta… A piscina ficou esquecida, cheia d’água. A água sujou, apresentando uma fina camada de poeira na superfície. Quem passava por lá, olhava, se detinha um instante, mas seguia seu caminho: escola, trabalho, afazeres. Na semana seguinte, cada um tinha um compromisso. Durou um único fim de semana. Passados uns meses, venderam. Na percepção deles, nunca fez tanto calor como naquele verão. Os estudiosos afirmam que há uma probabilidade de aumento da temperatura global de 1,5 °C nos próximos anos. E vocês, já encomendaram sua piscininha?