Benfazejo
Onde moro há um senhorzinho que percorre a cidade inteira de bicicleta para alimentar os gatinhos de rua. Inclusive, quando os bichanos estão doentes, ele os medica e trata, mesmo com seu pouquíssimo conhecimento médico. Geralmente o vejo quando vou até a calçada alimentar os felinos desabrigados da minha rua. O senhorzinho, o qual ainda não perguntei o nome, conhece cada animalzinho e sua localidade, assim como sente falta daqueles que se vão sem se despedir... Uma vez me perguntou sobre um gato siamês que morava aqui na minha rua, eu disse que nunca mais o havia visto. O informei que achava que o gatinho havia morrido, pois estava meio adoentado da última vez que o tinha avistado. Pude ver em seus olhos a tristeza por ter perdido um de seus pequenos companheiros e compartilhei da dor, pois o gato, o qual eu inclusive já tinha dado um nome, era muito querido por mim também, me deixou um buraco por dentro. O siamês tinha uma mania de sempre entrar dentro do meu jardim quando eu abria a porta de casa, pois sabia que eu ia dar comida a ele. Fazia isso junto com outra gata, rajada. Agora que ele se foi, ela continua mantendo a tradição de sempre adentrar na minha residência, para arranhar minha árvore e esperar pacientemente pela ração.
O que a gente ganha alimentando e ajudando os gatos de rua? Com certeza não obtemos nenhum bem material, mas adquirimos um bem muito mais valioso, intangível, porém mais brilhoso e pomposo que ouro, a gratidão por fazer o bem. Pode-se avistar nos olhinhos dos animais todo o agradecimento pelo que fazemos por eles, é a forma mais sincera de comunicação, o olhar, pois muito se fala no silêncio. Fazer o bem nos preenche de alívio e leveza. Todos nós temos o conhecimento nato do que é certo a se fazer, o corpo e a mente nos recompensam. No caso contrário, ao caminhar pela trilha da maldade, haverá uma decrepitude de nosso ser. Devemos amar e deixar ser amados para colher os frutos de uma vida serena.