Cachorro também é gente e sardinha é ser humano

 

Jornalista e advogado goiano, inteligente e muito espirituoso, meu amigo Nilson Gomes Carneiro enriquece minhas crônicas aqui do Blog com seus comentários engraçados e, logicamente, também sempre inteligentes e espirituosos. Ele me sai com cada uma, que me faz doer a barriga de tanto rir. Não sem razão, o teólogo, professor e advogado goiano Erisval Moura de Sousa, um amigo em comum, também o admira muito.

 

Um dia desses – 29 de março de 2018, para ser exato –, comentando-me a crônica “Não ter dinheiro para comprar latas de sardinha”, irônica e brincalhonamente, ele me saiu com esta: “Como adepto do filósofo Magri, acho que cachorro também é gente e sardinha é ser humano igual a nós que andamos de ônibus.” É verdade, cachorro só falta falar. Quem tem a felicidade de criar um sabe o quanto eles são amáveis, inteligentes, sensíveis e de uma resiliência a toda a prova.

 

Sábado, dia 7, fui vacinar a She-Ra (não a irmãzinha do He-Man, claro), a minha cachorrinha, de dois meses e dias de idade, a qual, como todo filhote de cão, independentemente do sexo, é um animalzinho lindo, brincalhão e cheio de vida, que, como nós, os homens humanos, no dizer inteligente e brincalhão dos Mamonas Assassinas, também sente medo na iminência de perigo.

 

A She-Ra, com sua sensibilidade, inteligência e demonstração de temor diante do perigo, muito me sensibilizou no pet shop, na hora da vacina. Saiu de casa aos pulos e fez o maior carnaval dentro do carro e na rua, quando a desci, mas quando foi para adentrar o estabelecimento, demonstrando estranhar o ambiente, perdeu todo o entusiasmo de instantes atrás e resistiu um pouco.

 

Depois, já dentro da loja, voltou a alegria e começou a pular. Até para a pesagem deu um pouco de trabalho, pois nem quando a peguei e pus na balança ficou quieta. Mudou completamente, porém, quando a moça da loja, tomando-a nos braços, a levou para a outra sala e a pôs sobre uma mesa de aço bem grande, para aplicar a vacina. Aí, tal qual um ser humano na mesa de operação, ela demonstrou profundo medo. Ficou quietinha, de cócoras, assustada e, humilhada, olhava para mim, pedindo socorro.

 

A moça me disse: “Ela está com medo, assustada, por causa do ambiente estranho, mas não vai doer. Como tem o couro grosso, ela nem vai sentir.” Fiquei conversando com ela e passando-lhe a mão na cabeça, enquanto era preparada a vacina. Depois a segurei firme, para que fosse feita a injeção, o que ocorreu rapidamente e sem reação de sua parte. Não sentiu – pelo menos não demonstrou sentir – a agulhada. Paguei a vacina, comprei vermífugo e voltamos para casa, ela na maior alegria, como se nada lhe houvesse acontecido.

 

Minhas conclusões. Estou certo, como especialista em Direito Médico, ao defender o paradigma da autonomia na relação médico-paciente. E, como disse o Nilson, “cachorro também é gente e sardinha é ser humano igual a nós que andamos de ônibus”. Bem diziam (aliás, cantavam), bela e alegremente, os Mamonas que as baleias no oceano nadam com graça, fugindo da caça dos homens humanos.